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Ex-presidente do Peru que cometeu suicídio deixa carta negando propina ou contas; “Deixo meu corpo como desprezo aos meus adversários”

Por Agência EFE Chegada do caixão de García à sede do Apra, seu partido, em Lima, no dia 17. — Foto: Ernesto Benavides / AFP

Chegada do caixão de García à sede do Apra, seu partido, em Lima, no dia 17. — Foto: Ernesto Benavides / AFP

O ex-presidente peruano Alan García deixou uma carta-testamento antes de cometer suicídio na última quarta-feira (17), na qual afirmou não querer sofrer a injustiça de ser preso sob acusação de participar de um escândalo de corrupção.

Ele garantiu que “não houve nem haverá contas nem propinas” e que “a história tem mais valor que qualquer riqueza material”.

García se matou com um tiro na cabeça, logo após um promotor e a polícia chegarem à sua casa para prendê-lo por acusação de corrupção dentro de um escândalo de pagamento de propinas envolvendo a construtora brasileira Odebrecht no país. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu.

“Vi outros desfilarem algemados, guardando a sua miserável existência, mas Alan García não tem por que sofrer essa injustiça e esse circo, por isso deixo aos meus filhos a dignidade das minhas decisões, aos meus companheiros um sinal de orgulho, e o meu corpo como uma amostra do meu desprezo aos meus adversários, porque já cumpri a missão que me impus”, diz a carta, lida por Luciana García Nores, uma das filhas do político, no funeral realizado em Lima, na sede do Partido Aprista Peruano, do qual era o líder.

No texto, revelado pouco antes de o caixão com o corpo de García ser levado ao cemitério onde será cremado, o ex-governante também declarou ter cumprido a missão de levar duas vezes ao poder a legenda.

García, que governou o Peru em dois mandatos (1985-1990 e 2006-2011), afirmou na carta que seus adversários políticos “optaram pela estratégia” de denunciá-lo durante mais de 30 anos, mas “jamais encontraram nada”.

Velório sem honrarias

Milhares de pessoas, entre elas políticos e autoridades, velaram o corpo de García, que tinha 69 anos. A família do político preferiu que a cerimônia fúnebre não tivesse honras oficiais. O caixão com seu corpo foi carregado pelas ruas de Lima nesta sexta-feira (19).

“Neste tempo de boatos e ódios repetidos que as maiorias acreditam ser verdadeiros, vi como são usados os procedimentos para humilhar, e não para encontrar verdades”, enfatizou, na carta.

“Por muitos anos me coloquei acima dos insultos, me defendi, e a homenagem dos meus inimigos foi argumentar que Alan García era suficientemente inteligente para que eles não conseguissem provar as suas calúnias”, acrescentou.

“Nunca poderia haver preço suficiente para quebrar o meu orgulho de aprista e de peruano, por isso repeti: outros se vendem, eu não”, frisou.

García também escreveu ter cumprido seu dever “na política e nas obras feitas em favor do povo, alcançando metas que outros países ou governos não conseguiram”.

Depois da leitura da carta, o filho mais novo de García, Federico Danton, de 14 anos, assinou sobre o caixão do pai o documento que o inscreveu como militante do Partido Aprista.

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Elias Lacerda

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Elias Lacerda
Jornalista apaixonado pela notícia e a verdade