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Lírica e Hermenêutica – Uma poesia do juiz de Timon Weliton Carvalho

Nunca escrevi um verso para minha mãe,
porque ela me deu todos os poemas:inclusive os que nunca li nem consegui escrever.Num dia da minha infância, mãe olhou pro céu e disse:─ Sabe por que o céu é azul?
Pra colorir a nossa vida em preto e branco.Menino treloso que era,
percebi que ela guardava cacarecos:

copos quebrados, páginas soltas, roupas manchadas,
tocos de velas da primeira comunhão dos filhos.

─ Por quê, mãe?
─ A vida se faz aos pedaços, filho.

Como se vê, aprendi com ela lírica e hermenêutica
para me espantar ante o despedaçar da vida.

 

Biografia

Weliton Carvalho nasceu em Bacabal-MA no dia 05 de novembro de 1965. Com uma semana de nascido voltou para Santa Inês-MA, cidade em que seus pais moravam, onde permanece até os 10 anos de idade. Nesta época forja sua base poética no convívio com os amigos de infância, a observação das injustiças sociais, a indiferença dos seres humanos pela dor alheia, a religiosidade da mãe e os fatos minúsculos do cotidiano desapercebidos por muitos, contudo que para ele lhes eram caros. Em 1976 vai para São Luís estudar no colégio maristas junto com suas irmãs. Empreitada feita com grande sacrifício por parte dos pais. A cidade lhe era totalmente estranha, mas se adaptou a esta outra realidade permeada de solidão. Foi um tempo de ruminar. Naquela época as férias escolares duravam três meses e com isso podia voltar a Santa Inês e privar com os colegas se alimentando da poesia da cidade, que para os demais parecia ser puro cotidiano vulgar. Santa Inês é, definitivamente, província e universo.

Depois de uma breve passagem por Goiânia em 1983, chega ao Recife em 1985. Na capital pernambucana cursa ciências jurídicas na Universidade Católica de Pernambuco, onde também obtém o título de Especialista em Direito Público. Logo depois se inicia no magistério superior nesta mesma instituição. Em um curso de espanhol conhece Beatriz, eterna musa. Por tal motivo tem uma predileção pela língua de Cervantes. Exatamente por isso o primeiro poema publicado neste site tem o título de Enamorado, palavra também existente em língua portuguesa, mas de maior presença no idioma de Federico Garcia Lorca e com a densidade do vocábulo paixão para os falantes do vernáculo de Camões.

Inicia curso de mestrado em direito em 1993 na Faculdade de Direito do Recife. Em 1995 regressa ao Maranhão. Ingressa na magistratura em 1997. Casa-se em 1998, em Recife, com Beatriz. Tem três filhos. Estreia na literatura com o título Travessia sem fim (1999). Seguem-se ao título de estreia: Descobrimento do explícito (2000), Sustos do silêncio (2001), Tempo em conserva (2006), Geometria do lúdico – obra poética reunida (2008) e Ócios do ofício (2019).

Também conta com dois títulos infanto-juvenis: Pés no chão cabeça nas nuvens (2011) e Cabeça nas nuvens pés no chão (2012).

Conclui doutorado pela Faculdade de Direito do Recife (2014). Publicou os seguintes livros jurídicos: Despedida arbitrária no texto constitucional de 1988 (1998) e Direitos fundamentais: constituição e tratados internacionais (2014).

Entre 2008 e 2017 exerceu o magistério superior na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Atualmente, além de juiz em Timon,  é professor adjunto da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Piauí (UFPI).

1 Comentário

  1. À MESTRA, COM CARINHO

    Pelo exercício do filho, já se percebe a grandeza da mãe mestra que me faz recordar também a minha que até hoje, vivíssima, de pedaço em pedaço me põe completo e de quebra ainda me oferta um tinteiro – fruto da inspiração que emana do seu jeito de ser no ser.
    Você, poeta Weliton Carvalho, é uma das grandes aparições no cenário da Literatura Maranhense. Conheci seu trabalho por intermédio de outro poeta estupendo, Paulo Rodrigues, de Santa Inês.
    Parabéns, vate, pela canção lírica. Conheço outro bacabalense cuja poesia também nos tira o fôlego, devolvendo-nos sete, Antonio Ailton.
    Seu registro nesta página traz-nos muitas alegrias, advindas de muitas razões: bela homenagem à sua mãe, a todas as mães, neste dia especial; mais um registro luminoso de autêntica poeticidade e a certeza de que a tradição das letras gonçalvinas, sousandrinas continuam nesta terra de Salgado Maranhão, Ferreira Gullar, Nauro Machado, Bandeira Tribuzi….
    Lerei suas obras, largando as tiras como Lorca para cada vez mais me recompor, “porque a vida (de fato) se faz aos pedaçõs”, poeta. Bravo!!!

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Elias Lacerda

Elias Lacerda

Elias Lacerda
Jornalista apaixonado pela notícia e a verdade