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Professor deixa coordenação de curso na UFPI e reclama do uso de drogas por parte de estudantes

Professor da Ufpi alega perseguição por combater suposta circulação de crack na universidade

Do site oitomeia.com.br

O professor Silvio Henrique Barbosa, da Universidade Federal do Piauí (Ufpi), em carta enviada aos alunos de Jornalismo da instituição, disse que renunciou o cargo de coordenador de curso porque se sentia perseguido por um grupo de 15 alunos do Centro Acadêmico (Cacos). No texto, ele relata que as intimidações se intensificaram após marcar reunião com os pais dos estudantes para dizer que flagrou consumo de crack nas dependências do departamento onde atua.

O documento foi enviado aos e-mails dos alunos na última quarta-feira (10/07). Uma fonte anônima repassou uma cópia a nossa reportagem. Em tom de desabafo, o professor chega a dizer que há estudantes que se opõem à luta dele contra a circulação de “drogas pesadas” no curso. “Flagrei o consumo de crack três vezes no Jornalismo [departamento]”, afirmou o docente paulista.

“Torcendo aí para que o próximo coordenador e chefe de departamento não esmoreçam e sigam em frente, apesar de todas as pressões, calúnias e difamações nas redes sociais, para que os espaços do Jornalismo usados como boca de fumo possam voltar a ser utilizados pelos alunos que não utilizam a Ufpi para se drogar, mas para estudar, em busca de crescimento na vida. Como professor, com alunos de 17 anos, torço para que a Ufpi não se transforme na Cracolândia de Teresina”, contou Silvio. Leia a carta na íntegra ao final da reportagem.

“CAPITALISMO CRUEL”

Por telefone, a reportagem conversou com Silvio, que reafirmou ter presenciado o consumo de crack na área de vivência do curso de Jornalismo da Ufpi. Para ele, desistir do cargo de coordenação é uma tentativa de amenizar “ataques semanais” que sofria do grupo de 15 alunos do CA. O professor ainda argumentou que a sua desistência pode diminuir perseguições a futuros coordenadores e chefes de departamento.

Professor Silvio Henrique diz ter flagrado três vezes o consumo de crack na Ufpi (Foto: Reprodução Facebook)

“Se algumas pessoas querem usar drogas, elas que façam, privadamente, fora da universidade. Em algum momento, surgiu essa ideia de que a universidade pública é um local para se usar drogas. Não é. Isso é um erro. É uma falha muito grave, inclusive do traficante que bate nessa tecla de democracia para se apropriar dos nossos alunos como consumidores. Isso é um sistema capitalista cruel, pois ele quer lucrar à custa da destruição do caráter dos nossos alunos, da saúde dos nossos alunos, da vida dos nossos alunos”, argumentou Silvio.

ALUNOS APONTAM ASSÉDIO MORAL

Na manhã desta sexta-feira (12/07), o Centro Acadêmico de Jornalismo divulgou uma nota de repúdio ao professor, rebatendo as alegações de que os membros da entidade tenham conspirado contra o mesmo. O Cacos cita que Silvio chegou a responder por 10 processos de assédio moral a estudantes, antes mesmo de se tornar coordenador de curso, e que não cumpria com as suas obrigações enquanto estava à frente da Coordenação. Como exemplo, foi citado um episódio em que uma formanda não colou grau porque o docente não validou as horas complementares dela.

“Criminalizar um espaço de convivência pacífico não era suficiente para o professor. Este registrou um boletim de ocorrência (BO) contra um aluno que se manifestou, de forma pacífica, com um cartaz. O cartaz dizia o seguinte: “Se o crack vicia, a ignorância mata.” De acordo com a interpretação do professor, isso se configurava como uma ameaça de morte a ele. Diante dessa situação, foi movido um processo pedindo o afastamento do docente do cargo de coordenador pelo Centro Acadêmico”, diz a nota. Leia a íntegra ao final desta reportagem.

UFPI ACIONA POLÍCIA FEDERAL

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da administração superior da Ufpi, informando que o Centro de Ciências da Educação (CCE) poderia se pronunciar. O professor Luís Carlos, diretor do CCE, informou que tomou conhecimento das alegações do professor e que Silvio formalizou uma denúncia sobre o consumo de crack e outra sobre uma suposta ameaça de morte, segundo a interpretação do docente, que se relaciona à frase “Se o Crack vicia, a ignorância mata”.

“O chamamento de polícia, em questões relacionadas a drogas, é de responsabilidade do reitor. A universidade entrou em contato com a delegada da Polícia Federal para ver essa questão das drogas na universidade. Então, a administração superior da universidade recebeu a denúncia feita pelo próprio professor [Silvio]”, explicou Luís Carlos, reafirmando que as denúncias ainda seguem em apuração. Sobre as supostas ameaças, o diretor informa que se trata de uma interpretação subjetiva do professor. “Aí você vê uma frase, pode interpretar como ameaça, mas entra no campo da subjetividade”, concluiu.

LEIA A ÍNTEGRA DA CARTA ENVIADA PELO PROFESSOR SILVIO

Renúncia do coordenador do Curso de Comunicação Social/Jornalismo,

Alunos, informo que a partir de hoje não sou mais coordenador do curso. Apesar de eleito com 100% dos votos dos professores e 70% dos votos válidos dos alunos (os outros 30% ficaram com o boicote defendido pelo CACOS), concluí que devo renunciar para que o curso não continue sendo prejudicado pelos ataques que sofro por parte de um pequeno grupo de umas 15 pessoas ligadas, direta ou indiretamente, ao CACOS.

Nesta segunda-feira, dia 08, aqueles que se opõem à minha luta contra a circulação de drogas pesadas no nosso curso (flagrei o consumo de CRACK 3 vezes no Jornalismo) foram derrotados na tentativa de me destituir da Coordenação.

O Conselho Departamental do CCE votou pelo arquivamento do processo do CACOS contra mim, por absoluta falta de provas nas diversas alegações. Os inimigos precisavam de 16 votos (2/3 do total) do Colegiado para me destituir. E obtiveram apenas 7.

Entretanto, entre esses 7 votos estão os três votos dos representantes do curso no colegiado: Profs Eliezer, Cantídio e Nilsângela que, estranhamente, não pediram minha destituição no Colegiado do nosso curso, o que poderiam ter feito a qualquer momento, preferindo, sabe-se lá porque, deixar o CACOS bancar o pedido de afastamento no Conselho do CCE, onde o processo foi pesadamente derrotado.

Apesar do processo ter sido encerrado a meu favor, julgo que o melhor é renunciar agora para não continuar lançando a ira do CACOS contra a Coordenação, prejudicando o andamento do curso.

Dessa forma, Prof. Eliezer assume interinamente a Coordenação, a partir de hoje e até a realização de nova eleição.

Torcendo aí para que o próximo Coordenador e Chefe de Departamento não esmoreçam e sigam em frente, apesar de todas as pressões, calúnias e difamações nas redes sociais, para que os espaços do jornalismo usados como Boca de Fumo possam voltar a ser utilizados pelos alunos que não utilizam a UFPI para se drogar, mas para estudar em busca de crescimento na vida.

Como professor com alunos de 17 anos, torço para que a UFPI não se transforme na Cracolândia de Teresina.

Fiz muitas produções no centro de São Paulo nos últimos 15 anos e sei muito bem o que essa droga é capaz de fazer. Um efeito devastador que atinge hoje perto de 55 mil pessoas só na região metropolitana de São Paulo.

Agora, é seguir em frente na pesquisa e no ensino, trabalhando na formação de jornalistas éticos, conscientes dos perigos que ameaçam nossa sociedade.

LEIA A ÍNTEGRA DA NOTA DO CENTRO ACADÊMICO DE JORNALISMO

NOTA DE ESCLARECIMENTO:

O centro acadêmico de Comunicação Social vem por meio deste esclarecer fatos e acusações contra os membros do CACOS e a instância de representação estudantil. Nesta tarde do dia 11de Julho de 2019, o Coordenador do curso prof. Dr. Silvio Henrique Vieira Barbosa lançou uma carta aberta anunciando sua renúncia de cargo no fórum do SIGAA. Onde justificou sua ação pautado em convicções pessoais. 

O referido docente possui 10 processos de assédio moral movidos por alunos durante o primeiro semestre de 2018. Processos que foram realizados após o professor ameaçar e gritar com uma aluna dentro de sala aula, causando não apenas humilhação como também intimidação e medo aos outros alunos presentes. Na época, o CACOS atuou na sua função de representação estudantil e escolheu assumir a abertura dos processos dos estudantes, contudo, esta ação levou o docente a acreditar que a partir deste momento o Centro Acadêmico se destinaria a persegui-lo. A situação foi mediada em um primeiro momento, onde se decidiu pelo arquivamento dos processos depois do diálogo proposto pelo corpo docente com os discentes envolvidos no processo.

Porém, meses depois, durante a sabatina da eleição para Coordenador, onde devia focar nas suas propostas, o docente dedicou-se, na frente de professores do Departamento, a atacar o Centro Acadêmico. Chegou, inclusive, a negar suas cartilhas de carta-proposta para os membros presentes. Foi possível compreender neste momento que o professor não havia deixado de lado sua convicção de que a representação estudantil o perseguia.

Dessa forma, mesmo após ser eleito, o docente jamais procurou uma forma de diálogo com o Centro Acadêmico. Todos os comunicados eram enviados através de seu bolsista da coordenação, para uma pessoa em específico do CACOS. Foi dessa maneira, que um dia antes, recebemos um convite para o evento do JOpais, promovido pelo coordenador no primeiro semestre de 2019.

Ao receber o convite nos foi informado que teríamos um espaço para apresentação e fala. Contudo, no dia do evento, não constava o nome nem o espaço prometido à representação estudantil. Mesmo diante da enorme situação de desrespeito permanecemos no evento e tivemos o infortúnio de presenciar o docente proferir um discurso aterrorizante e completamente errôneo sobre o nosso Espaço de convivência, que é o Carretel.

Durante o evento, o professor fez um discurso mentiroso sobre a presença de um esquema de venda e consumo de Crack no espaço, que ameaçava a vida dos alunos que acabavam de chegar aquele ambiente. O discurso chocou tanto pais, quanto alunos e docentes do Departamento presentes, além de atribuir à instituição pública federal de ensino a imagem de “cracolândia”. Os absurdos ditos eram baseados unicamente em uma visão preconceituosa e sensacionalista. Os estudantes do curso de Comunicação e de outros que frequentam o ambiente, se manifestaram na Universidade de forma pacífica com cartazes inspirados na fala do próprio docente.

Criminalizar um espaço de convivência pacífico não era suficiente para o professor, este registrou um boletim de ocorrência (B.O) contra um aluno que se manifestou de forma pacífica com um cartaz. O referido cartaz dizia o seguinte “Se o Crack vicia, a ignorância mata.” De acordo com a interpretação do professor, isso se configurava como uma ameaça de morte a ele. Questiona-se como professor conseguiu os dados do aluno denunciado, uma vez que tinha acesso a dados de todos os matriculados no curso. Não é difícil perceber que o ato de levar à justiça um problema que poderia ser resolvido através do diálogo com a Chefia de Departamento foi realizado com o único objetivo de humilhar e demonstrar poder sobre os mais fracos, nesse caso, os alunos, e em específico, aqueles que ele acredita veemente que o perseguem.

Diante dessa situação e com a abalo emocional causada ao aluno, foi movido um processo pedindo o afastamento do docente do cargo de coordenador pelo Centro Acadêmico. Além do transtorno causado ao aluno e a sua família, o docente não cumpriu com funções específicas de seu cargo, como por exemplo, a validação de atividades complementares de uma estudante, que foi impedida de se graduar por este erro. Esta não foi comunicada pelo coordenador que suas atividades não haviam sido validadas tendo conhecimento apenas durante a cerimônia de colação de grau.

Ainda dentro de suas atividades como coordenador, o docente se recusou a dar encaminhamento ao processo do Centro Acadêmico que pedia seu afastamento. Sendo presidente do Colegiado de curso, este deveria convocar a reunião para que fosse posto em votação. Contudo, o professor atrasou o processo por mais de 60 dias, tendo realizado cerca de cinco devoluções ao Centro Acadêmico alegando falhas que já haviam sido justificadas pela Pró-Reitoria de Ensino e Graduação, pela Chefia de Departamento e pelo DCE. O processo só obteve o devido andamento após ter sido mandado, pelo docente, para a Procuradoria Jurídica da UFPI, que entendeu que a postura de questionar um processo não era válido na sua posição como coordenador.

A reunião do Colegiado de curso realizada no dia 13 de Junho de 2019, com a presença de dois representantes docentes e um discente, decidiu de forma unânime seu afastamento. Porém, o processo deveria seguir para o Conselho do Centro de Ciências da Educação (CCE). Nesta segunda, 08 de Julho de 2019, o Conselho, composto por 14 membros de diferentes cursos do CCE obteve uma votação empatada de 7 a 7 em relação ao processo com o pedido de afastamento. 

O foco do processo desde o início foi seu abuso de poder no cargo e suas falhas na função de coordenador, mas durante a reunião do Conselho o docente mais uma vez acusou o Centro Acadêmico, seus membros de perseguição. Assumindo para si uma luta pessoal em que o Centro Acadêmico era seu principal inimigo.

Baseado nas suas convicções de perseguição estudantil o docente afirmou que o Cacos planejou um boicote nas eleições da coordenação, sendo atribuídos a culpa  pelos 30% de votos em branco ou inválidos. O curso é composto por 251 alunos ativos e presumir que 75 não votaram a mando do Centro Acadêmico é uma estatística que ultrapassa até o total de votantes na eleição.

Permeiam também falsas alegações de tentativas de diálogo com o Centro Acadêmico que nunca de fato recebeu propostas ou teve reuniões diretamente marcadas pelo docente, que sempre, mandava terceiros. Mesmo diante das afirmações sem provas, o conselho votou e empatou. Contudo, é importante que alguns detalhes sejam postos em questão.

O docente tentou desvalidar o voto de duas representantes do Colegiado de curso, onde segundo ele, elas possuíam ligação afetiva com os interessados do processo e tinham objetivos pessoais para votarem a favor. Se tomarmos como base as relações afetivas para desvalidação de votos, seria possível desvalidar o parecer diante de seu processo, uma vez que relator e réu possuem um laço de amizade.

Entretanto, a atuação do relator durante a análise do processo no Conselho do CCE acabou por assumir um posicionamento em defesa do professor Sílvio, imparcial, como por exemplo, questionar o porquê da discente Joana D’arc ser membro do colegiado de curso, uma vez que esta foi Coordenadora geral do centro acadêmico em 2018, ano de primeira incidência. Bem, esta é a função da representação discente: atuar em defesa dos direitos dos estudantes.

Para o relator, os pontos citados no processo e as provas apresentadas não foram suficientes. Mesmo tendo ouvido a fala de três docentes do Departamento sobre como era a convivência, o comportamento do professor e suas falhas na administração constantes, ele ainda considerou que os argumentos não eram plausíveis. A votação contabilizou 7 a 7, o que tornou o processo inconclusivo, uma vez que eram necessários 9 votos a favor ou contra. 

O espaço Carretel é um espaço de vivências que faz parte da vida de muitos estudantes de Comunicação. O uso da mencionada droga pelo docente no espaço nunca foi presenciado por membros ou estudantes. O Carretel permanece como um local livre e acolhedor, que abraça a todos os públicos.

É lamentável que como uma instância de representação estudantil, tenhamos que enfrentar diversos assédios, calúnias, difamações e desgastes emocionais causados por algo que permeia nossas vidas com o único intuito de nos prejudicar. Somos membros de um coletivo que se esforça diariamente para enfrentar as injustiças e dar voz a classe mais fraca desse elo na hierarquia acadêmica.  Somos estudantes, enfrentamos diariamente obstáculos que abalam nossa saúde mental já tão fragilizada. Mesmo diante dos nossos problemas somos a segunda casa e a segunda família para muitos estudantes de Comunicação, e tudo que fazemos, dando suor e lágrimas é para proporcionar um espaço livre, acolhedor e amoroso.

Não perseguimos ninguém. Não ameaçamos ninguém. Queremos que nosso curso funcione bem, que as disciplinas sejam ofertadas de forma correta, que a convivência entre professores e alunos seja agradável. Queremos paz e justiça, por e para todos os estudantes.

JULLIANY NUNES, PRESENTE!

RHAUAN MACÊDO, PRESENTE!

JÉSSICA MONTEIRO, PRESENTE!

PS: Para ajuda interpretativa: a Ignorância pode MATAR, mas não MORRER, ela é sujeito que pratica a ação, não que sofre a consequência.

Atenciosamente, Centro Acadêmico de Comunicação Social

1 Comentário

  1. Kkkk capitalismo cruel? Um professor que sequer sabe o que é capitalismo….percebe-se logo a militância

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Elias Lacerda

Elias Lacerda

Elias Lacerda
Jornalista apaixonado pela notícia e a verdade