Saúde

Os buritizais e sua relevância socioeconômica para Timon e municípios da região

O buriti (Mauritia flexuosa) é uma palmeira majestosa que ocorre ao longo do bioma Cerrado, que ocupa cerca de ¼ do território brasileiro, apresentando expressiva diversidade biológica e cultural, sendo extremamente relevante do ponto de vista hidrológico, uma vez que possui várias nascentes de grandes rios que “cortam” o Nordeste do Brasil e mesmo rios amazônicos, como Tocantins e Xingu, que tem suas nascentes em áreas recobertas pelos cerrados, além de rico lençol freático (que serve como “estoques” de água potável). As nascentes de rios importantes de nossa região, como o Parnaíba, Mearim e Itapecuru estão nos Cerrados. Grandes são as ameaças ao Cerrado, destacando-se a expansão da fronteira agrícola e uso indiscriminado de agrotóxicos.

Ao longo do Cerrado existem diferentes tipos de vegetação, podendo-se destacar as matas de galeria ou ciliares (matas que margeiam os cursos d’água), cerrado típico (muito conhecido como chapada e que predomina em Timon) e até áreas mais abertas dominadas por plantas rasteiras e alagadas durante todo o ano. Essas áreas alagadiças em nossas chapadas são conhecidas como brejos ou veredas. Na região de Timon temos áreas de brejos com forte presença de buritis, principalmente na região mais próxima ao município de Caxias (Portal da Amazônia, Canto Alegre, Brejinho etc).

O buriti fornece alimentos, ração para animais, adubo, materiais de construção, enfeites, utensílios domésticos, móveis, remédios, cosméticos, brinquedos e até mesmo instrumentos musicais. Cada parte desta planta possui pelo menos uma utilidade. A obtenção da polpa do buriti para produção de doces, sucos e outros produtos alimentícios merece destaque. No entanto, nos últimos anos, a obtenção do óleo do buriti destinado à indústria de cosméticos tem ganhado destaque, gerando rendas alternativas em projetos realizados em várias regiões ao longo do Cerrado, desde estados do sudeste e centro-oeste do Brasil até o Nordeste do Brasil, mas de modo mais tímido nessa última região.

O uso sustentável dos buritizais é considerado pelo Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) como fundamental para conservação dessa palmeira, das veredas e do Cerrado e para geração de renda para populações socialmente vulneráveis, incluindo remanescentes quilombolas. Ao longo dos últimos 17 anos, o ISPN apoiou projetos comunitários no Cerrado por meio do Programa de Pequenos Projetos Ecossociais (PPP-ECOS). O Instituto Inovação Natura tem buscado parceiros para obtenção de óleo de buriti para indústria de cosméticos, possuindo vários produtos fabricados a partir do óleo do buriti, como sabonetes, óleos corporais, dentre outros produtos, fazendo parte da linha EKOS dessa empresa que contempla outros produtos de nossa biodiversidade, como o breu branco e a andiroba.

E onde o senhor quer chegar com essa estória dos buritizais, professor? Justamente aqui, em Timon, cuja presença de buritis ainda é marcante. Possuímos grande potencial para organizar e trabalhar a cadeia produtiva do buriti, assim como em municípios vizinhos (ex: Caxias, Parnarama, Matões, São João do Sóter), gerando renda alternativa, empregos, canais de comercialização (parcerias com empresas de cosméticos, por exemplo, para venda do óleo). No entanto, para que isso aconteça ainda esbarramos em alguns gargalos ou problemas que listo a seguir:

1. não temos estudos e dados oficiais e técnicos sobre a disponibilidade atual dos buritizais em Timon para embasar a organização e início dos trabalhos envolvendo a cadeia produtiva do buriti e suas muitas possibilidades;

2. a problemática muito grave dos BARRAMENTOS ILEGAIS dos nossos riachos que prejudicam e muito os buritizais, principalmente no período de estiagem (quando várias áreas ocupadas por buritizais ficam sem água, requisito para sobrevivência dos buritis), problemática já observada em Timon ao percorrer a zona rural, como a região do Portal da Amazônia, por exemplo;

3. ainda não termos projetos elaborados, aprovados e recursos disponíveis para dar o “pontapé inicial” e organizarmos a cadeia do buriti, de modo a se criar as condições para que associações e/ou cooperativas tenham como trabalhar as várias possibilidades do

buriti e que sejam criados os canais de comercialização com empresas regionais, nacionais e quem sabe até internacionais.

Tomo a liberdade de convidar respeitosa e humildemente os gestores de Timon, nossos parlamentares (deputados estaduais e federais), o senhor, a senhora, você jovem, os futuros candidatos a vereadores, à prefeito e vice-prefeito de Timon para as eleições de 2020, independentemente de partido político, a refletirmos e discutirmos a possibilidade se inserir as cadeias produtivas, nossos potenciais naturais em suas propostas para melhoria de vida do povo de Timon. O povo está acima de partidos e ideologias, ou melhor, a necessidade do nosso povo que merece todo o respeito. Emprego e segurança pública não são o que mais o povo timonense almeja atualmente? Bastar conversar com o nosso povo.

Após verificarmos pesquisa confiável recentemente publicada em 2020 feita pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN) em nível nacional que apontou Timon como o município mais insustentável dentre os de maior porte do Brasil (sem receita própria para cobrir despesas administrativas da prefeitura e câmara de vereadores) e ao olharmos dados do IBGE que apontam que 44% dos trabalhadores ativos de Timon recebem até 450,00 mensais chego à conclusão que isso é para “anteontem”, ou seja, é muito urgente. Meu intuito aqui não é apontar dedos a grupo A, B ou Y, pois isso claramente é problemática de longa data, mas chamar nossa sociedade, como um todo, para uma reflexão sobre nossa situação e nos unirmos em busca de alternativas para retirarmos Timon desse quadro negativo. É fácil? Não. Há fórmulas mágicas? Não. Mas temos caminhos, com exemplos de êxito em outros lugares no Maranhão e em outros estados do Brasil. Timon pode e tem todas as condições!

Continuarei a abordar essa questão dos buritis e outros produtos da nossa biodiversidade que constituem um “caminho”, “um movimento”, uma alternativa extremamente viável de colocar Timon em lugar de destaque em nível regional, estadual e nacional, com geração de empregos, diminuição de exclusão social, geração de rendas alternativas, implicações para segurança pública e melhoria da qualidade de vida de nossa sociedade.

Muito obrigado pela leitura. Deixe comentários e pedidos de temas. Prometo escrever sobre a problemática dos riachos em Timon em breve, assunto que muitos amigos e amigas tem pedido.

Que nas veredas por em redor, Sagarana. Uma coisa é o alto bom buriti. Outra coisa é o buritirana. Quem quiser que cante outra, mas à moda dos Gerais Buriti, rei das veredas. Guimarães: buritizais! (trecho da canção Sagarana, belamente interpretada pela saudosa Clara Nunes e inspirada na obra de Guimarães Rosa, que também escreveu Grande Sertão Veredas, dentre outras obras tão importantes de nossa literatura).

Prof. Dr. Cleuton Lima Miranda

Biólogo, Mestre e Doutor em Zoologia pelo Museu Paraense Emílio Goeldi. Pós-doutor em Biodiversidade e Conservação Animal pela Universidade Estadual do Maranhão. Professor formador dos cursos de licenciatura em Biologia da Universidade Federal do Piauí. Professor colaborador Universidade Estadual do Maranhão. Pesquisador colaborador do comitê da bacia hidrográfica do Rio Parnaíba (Teresina). Cidadão brasileiro e timonense.

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Elias Lacerda

Elias Lacerda

Elias Lacerda
Jornalista apaixonado pela notícia e a verdade