Reflexões sobre um Brasil que supervaloriza o amarelo. E o verde onde é que está seu Luíz?
Por Cleuton Lima Miranda
Este é um texto de opinião. Quis escreve-lo por vários motivos, mas, principalmente, por estarmos na Semana do Meio Ambiente. Comento com amigos e parentes que parece que sempre escolho o caminho mais difícil. Lutar por bandeiras como as ambientais e da causa animal, dentre outras, nos propicia momentos de alívio, de alegria, mas, na maior parte do tempo frustrações e travor. Não dá voto, segundo ignorantes e não por falta de acesso à informação: ignorantes no sentido de má fé, de ganância, da famosa “rachadinha”, das mil e uma formas de burlar a lei e de lesar o bem público.
Causa animal? Zoonoses? Tem muita gente morrendo de fome, rapaz – escuto. Não podemos retirar dinheiro do povo e utilizar em projetos para animais – escuto ainda mais. Carrocinha, eutanásia e pronto – também ouço. Política sanitária retrógrada e absurda por onde tenho andado, que fere nossas leis, principalmente as mais atuais sobre a problemática. Uma causa não exclui a outra! Meus amigos, entendam, por favor, não faltam projetos sociais, emprego, renda, saúde e dignidade para o povo por causa disso. São outros os motivos, que se pode resumir em uma palavra maldita e perniciosa, que nos persegue e teima em enraizar desde o Brasil colônia: a corrupção.
Num momento em que padecemos tanto por conta de uma pandemia sem precedentes, cuja origem está na degradação dos ambientes naturais, conforme tenho escrito aqui nesse portal, o que temos para refletir nessa semana de meio ambiente? Tanta coisa! Deixe-me ver: a pandemia atual, a curva que só sobe, os efeitos do isolamento social, a cloroquina, vacinas, pós-pandemia, economia, a polarização política maldita em nosso país que não ajuda em nada, o movimento anticientífico e anti-intelectualista, o obscurantismo, o “passa a boiada” ou “passa de baciada” que nem a bancada ruralista, nem o agronegócio no Brasil foi capaz de assinar embaixo, tamanha ideia hedionda.
Temos um ministro de meio ambiente antiambientalista que claramente tem sucateado o Ministério de Meio Ambiente, nos fazendo perder R$ 271,2 milhões de reais para combates ao desmatamento na Amazônia, cujo aumento vertiginoso é claro (não tem como negar, pois não é só INPE, tem imagens da NASA), retirando o Brasil de tratados internacionais importantes, que retira técnicos gabaritados e coloca militares no
lugar, que gosta de dialogar com garimpeiros e grileiros, que acaba com bases do projeto TAMAR (proteção e conservação das tartarugas marinhas), que passa por cima de pareceres técnicos para atender interesses escusos, que tenta diminuir nossas Unidades de Conservação já insuficientes e problemáticas, que demorou quase um mês para acionar os mecanismos já existentes diante do desastre ecológico do óleo em nossas praias, que foi condenado por fraude ambiental quando secretário no governo de São Paulo, do ex-governador tucano Geraldo Alckmin, e ainda responde por outros processos. Esse senhor precisa ser exonerado urgentemente!
Então o que nos resta de esperança para o meio ambiente? Um despertar, um acordar dessa e das futuras gerações para que cobremos nossos direitos. Futuros políticos que não subestimem tanto seu eleitorado porque serão cobrados ou pagarão com o esquecimento, o ostracismo. Gestores inovadores. Pesquisa. Concursos. Inteligência. Retorno aos tratados internacionais. Desenvolvimento sustentável. Uso racional de nossos recursos naturais. Entender que você, eu e seus filhos fazemos parte do meio ambiente: está tudo interligado e não estou falando da hipótese Gaia, do filme do Avatar, de uma visão romântica de natureza e meio ambiente. Vou direto ao ponto: quanto mais detonarmos ambientes naturais mais respostas negativas para todos nós. Lamento informar que o preço a ser pago pelos seus filhos e netos será ainda maior que este que pagamos atualmente. Não preciso destrinchar o preço que estamos pagando, não é?
Finalizo essas reflexões com coração partido, mas ainda esperançoso. Poxa vida! Chegando época de festas juninas e com um trecho do grande Luíz Gonzaga, que, diferentemente do sr. Salles, conhecia e reconhecia a luta de Chico Mendes e de outros ambientalistas e já cantava a problemática ambiental de modo tão simples mas muito bem intencionado em seu Xote Ecológico:
Não posso respirar, não posso mais nadar. A terra está morrendo, não dá mais pra plantar. E se plantar não nasce, se nascer não dá. Até pinga da boa é difícil de encontrar.
Cadê a flor que estava aqui? Poluição comeu. E o peixe que é do mar? Poluição comeu. E o verde onde é que está? Poluição comeu. Nem o Chico Mendes sobreviveu…
Dr. Cleuton Lima Miranda

Jocei
Comentou em 05/06/20