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Em artigo, Chico Leitoa homenageia Napoleão Guimarães contando como o conheceu e as relações de amizade e disputas que tiveram

Napoleão Guimarães

Conheci Napoleão na década de 60. Eu era apenas uma criança e estava em nossa casa na beira da linha quando chegaram Ele e Outra pessoa que não me recordo, fazendo campanha para Prefeito. Meu pai o recebeu, ele pediu apoio e partiu. Acho que Seu Estevam votou nele. Napoleão teve uma vitória retumbante derrotando o candidato do Padre.

Daí em diante se fez Líder, chegando a ter três mandatos de Prefeito ( um dos mandatos de 6 anos ), num total de 14 anos e um meio mandato de Deputado Estadual. Em sua última eleição, na mais acirrada disputa da história de Timon, ele venceu Joāo Bosco por 150 votos em 21.000 apurados. Nessa eleição, que valeu esse mandato de 6 anos, nosso grupo à época, a Juventude Esportiva Timonense JET, teve papel decisivo apoiando Napoleão. Na reta final da campanha, em algumas ocasiões, era eu que falava por último nos comícios. Quando da decisão de apoiá-lo, ele se comprometeu que, se ganhasse, arranjaria um terreno pra fazermos a sede da nossa Entidade.

Eleição ganha, escolhi um terreno do Município de 80×90 localizado na divisa do Parque Uniào com o Parque São Francisco, que foi legalizado através de lei municipal aprovada pela Câmara e sancionada pôr Napoleão. Hoje o terreno abriga o Centro da Juventude da Fundação Cidadania.

Logo depois da apertada vitória, Napoleão me convidou para ser Secretário de Obras. Em princípio não aceitei pois trabalhava em uma Empresa desde estagiário, à época já recebendo uma boa remuneração, já tendo comprado o primeiro carro zero km e a casa onde moro até hoje. Eis que no final de março fui desligado da empresa. No dia 9 de abril de 1983, passando em frente à sua residência ele estava de calça, sapato e sem camisa. Parei e o cumprimentei. Ele falou: e aí rapaz, to te esperando. Falei: – ainda não tem secretário ? ele reafirmou: -não, estou te esperando. E concluiu dizendo que ia viajar pra São Luis mas se eu quisesse já podia assumir o lugar e me indicou uma sala no antigo prédio da Prefeitura. 6 dias depois, exato em 15 de abril de 1983, assumi e permaneci trabalhando com Ele até 31.12.1986, como Secretário e como Técnico do Projeto CPM.

Tivemos uma convivência muito intensa nesse período de labor público. Eu era o homem de confiança dele em praticamente todos os setores do governo. Isso começou a causar ciumeira em parte do seu grupo e acabou gerando desavenças.

Nos afastamos e vieram alguns embates políticos em que perdi duas e ganhei duas. Porém, apesar das disputas, mantivemos o respeito. Veio o ano 2000 e eu na condição de Deputado Federal fui eleito pela segunda vez Prefeito da Cidade, desta vez com 70% dos votos.

No primeiro mês de mandato, liguei para Napoleão e perguntei se ele poderia me receber em sua casa; e num final de tarde fui até sua residência. Encontro meio difícil, mas dona Rosilda, sua esposa quebrou o “gelo” servindo um suco de bacuri. Fiquei mais à vontade e entrei no assunto. Conforme ele mesmo sabia, a Governadora Roseana não me recebia, então com o mapa da cidade na mão, pedi que ele me ajudasse junto ao Governo do Estado, pra reivindicarmos asfalto pelo menos para o centro da cidade. Ao seu estilo foi logo dizendo que quem tinha 70% dos votos não precisava de ninguém pra fazer aquele pedido. Ponderei que se ele não me ajudasse, eu só, não conseguiria. Sai de lá convicto de que ele, pelo menos por telefone faria o pedido. E o fez, algum tempo depois uma Empresa veio a Timon e realizou alguns quilômetros de asfalto no centro da Cidade, sempre combinando com ele a ordem das ruas em execução. No decorrer da operação passei por ele nas proximidades de sua residência e sem descer do carro, perguntei qual rua estava na programação para o dia seguinte e ele respondeu que seria a Duque de Caxias. Ao sair, uma pessoa que tava no banco de trás falou que se fosse o Prefeito jamais faria aquilo; daí eu falei: – por isto que tu não é, e nem nunca vai ser Prefeito.

Não reatamos politicamente, e ele até vibrou com minha derrota em 2004, porém restabelecemos nossa boa convivência e ele até votou no meu filho Luciano quando da sua reeleição em 2016.

Napoleão faria em 31.12.2020, 90 anos de idade, sua família já planejava fazer uma grande festa na Cidade de Sucupira, sua terra natal. Com certeza ele me convidaria. Mas partiu em 16.03.2020, no hospital da Unimed em Teresina. Talvez eu tenha sido a primeira pessoa fora da família a ser comunicado, 10 minutos depois, pelo seu sobrinho mais próximo, o amigo Willamis Guimarães.

Deixou esposa, 5 filhos, netos e bisnetos e muitos amigos. Uma relevante história, da qual fiz parte em situações distintas. Mas conseguimos conviver harmoniosamente nos últimos anos, a ponto de eu ter participado de todos os seus últimos aniversários, 31.12, sempre tinha uma garrafa de vinho à minha espera.

A última vez que vi Napoleão, eu acompanhava dona Beta no hospital da Unimed e soube que ele estava internado em uma suite do mesmo hospital. Fui até lá e quando fiquei próximo da cama, estendi minha mão para cumprimentá-lo e ele me olhando sorrindo retribuiu com as duas mãos ( nessa data ainda não era “proibido” ) e foi perguntando: – e sua senhora como está? Respondi: – está internada num apartamento aqui nesse hospital. Conversamos alguns minutos na presença do seu acompanhante Aécio e me despedi desejando a ele pronto restabelecimento. Mas não tive mais chance de vê-lo com vida. Foi aquele gesto das duas mãos e o olhar brando a mim dirigido, a última imagem que guardei e ficará em minha mente. Uma prova que as verdadeiras amizades resistem às mais turbulentas intempéries e perduram …

Em 16 de maio, fará dois meses que ele partiu. Passarão anos e mais anos e sua história ficará marcada pra sempre numa boa página da memória de Timon.

Engenheiro Chico Leitoa – Maio de 2020

Chico Leitoa é engenheiro civil de formação, foi prefeito de Timon por dois mandatos, deputado estadual, deputado federal e Diretor do Departamento Estadual de Infraestrutura e Transporte (DEINT) do governo do Maranhão na gestão Jackson Lago.

3 Comentários

  1. Realmente. seu Napoleão teve um papel importante na história política de Timon.

  2. Há tempos atrás, na tentativa de “recriar” esse período, reuni material para produzir ensaio historiográfico desta passagem política. Refutei pois traria ranços e impressões que nenhum historiador pode manifestar quando tenta fazer uma narrativa histórica. Embora que tardia uma reparação sempre é bem vinda. Ainda que nem tudo possa dar o ar da graça. Há tempo pra tudo, dizem as escrituras. Quem sabe uma biografia ou documentário possam permitir desconstruir mitos e humanizar os fatos. Por certo, a política de Timon possui um divisor a partir da década de 1992

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Elias Lacerda

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Elias Lacerda
Jornalista apaixonado pela notícia e a verdade