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O menino que filmou o enterro de Luiz Gonzaga há exatos 30 anos

Há exatos 30 anos da partida do Rei do Baião, registros daqueles primeiros dias de agosto de 1989 seguem acendendo a chama gonzagueana e alumiando as lembranças e a saudade do povo

Quando criança, Paulo viu sua casa virar um abrigo temporário com peças enviadas por Gonzaguinha para compor o Museu do Gonzagão. Anos depois, seu apartamento cumpre papel semelhante, mas agora com itens diferentes, que ele mesmo adquiriu ao longo dos anos.

O pesquisador criou um site sobre Gonzaga (veja Linha do Tempo) e a página “Isto é forró” no Facebook. Prestou consultorias para o Museu Cais do Sertão, em Recife, o filme “Gonzaga: de pai para filho” (Breno Silveira) e o enredo “O dia em que toda a realeza desembarcou na avenida para coroar o Rei Luiz do Sertão”, da escola de Samba Unidos da Tijuca, campeã do Carnaval carioca em 2012.

Frente a toda essa bagagem física e simbólica que guarda, restou-lhe uma conclusão. “Não tem divisão de classe quando se fala dele. Desde o assalariado, o desempregado ao cara mais rico da sociedade, todos se emocionam ao ouvir Luiz Gonzaga. É incrível como ele transita por todos os territórios, segmentos e todos os tipos de coração”.

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Paulo Vanderley mantém um vasto acervo sobre Luiz Gonzaga em seu apartamento em Fortaleza FOTO: FABIANE DE PAULA

Na fala emocionada de Paulo, ainda vive um garoto entusiasta do ídolo. E ele também reconhece em outras pessoas a eternidade de Luiz. “No brilho dos olhos daquele menino, o sanfoneiro Kayro, você vê Gonzaga. É impressionante, uma chama que nunca vai se apagar”. Essa história, aliás, já foi cantada há muito tempo. “O candeeiro se apagou, o sanfoneiro cochilou, a sanfona não parou e o forró continuou”. E continuará.

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Linha do Tempo

1912
No dia 13 de dezembro, Luiz Gonzaga do Nascimento nasce na Fazenda Caiçara, em Exu, o segundo dos nove filhos do casal Januário e Santana.

1920
Com oito anos, substitui um sanfoneiro em festa na Fazenda Caiçara. Canta e toca a noite inteira. Antes de completar 16 anos, “Luiz de Januário”, “Lula” ou Luiz Gonzaga já é nome conhecido no Araripe e em toda a redondeza.

1926
Aos 13 anos, compra a primeira sanfona, na cidade de Ouricuri, graças ao empréstimo concedido pelo coronel Manoel Ayres de Alencar: uma Oito Baixos, Koch, marca Veado, igual ao do pai, Mestre Januário.

1929
Conhece Nazarena, com quem ele namora às escondidas. Rejeitado pelo pai da moça, de família importante, leva uma surra de Santana e foge de casa para o Crato, no Ceará, onde vende a sanfona de 8 baixos.

1936
Gonzaga aprende a tocar sanfona de 120 baixos em Minas Gerais. Para treinar, adquire uma sanfona de 48 baixos e aproveita as folgas da caserna para tocar em festas.

1941
Em 14 de março, assina como artista principal e exclusivo da Victor, grava quatro músicas que são lançadas em dois discos de 78 rotações.

1946
O conjunto cearense Quatro Ases e um Coringa, da Odeon, acompanhado pela sanfona de Luiz Gonzaga, grava a segunda parceria de Gonzaga e Humberto Teixeira, a música “Baião”, sucesso em todo o País.

1947
Grava o 78 rpm com a toada “Asa Branca”, parceria com Humberto Teixeira, inspirada no repertório de tradição oral nordestina. Adota um chapéu de couro semelhante ao usado por Lampião, por quem tinha grande admiração.

1964
Grava a composição “A Triste Partida”, de Patativa do Assaré, grande sucesso para os nordestinos que vivem no Sul.

1989
Grava os quatro últimos discos de sua carreira. Em 6 de junho, sobe ao palco pela última vez, no Recife. No dia 2 de agosto, morre no Hospital Santa Joana (PE). Em 13 de dezembro, Exu inaugura o Museu do Gonzagão.

*Agradecimento especial ao pesquisador Paulo Vanderley, que prestou consultoria para a realização desta série de reportagens sobre os 30 anos de saudade de Luiz Gonzaga

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Elias Lacerda

Elias Lacerda

Elias Lacerda
Jornalista apaixonado pela notícia e a verdade