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Túnel do Tempo: -Reescrevendo o Telégrafo e a Rua do Fio

POR GIL ALVES DOS SANTOS

1 – Aos poucos que me lêem:- adoro o meu caipirismo, o cheiro de mato do Buriti Cortado; o chão árido e seco do Zumbi, com a passagem inevitável pelo cemitério do Caboré, próximo da entrada para o “Croatá”, o lugar mais pavoroso de minha vida e a fartura da Tapera, com um enorme e grandioso açude, fruto da engenharia de meu pai – GENÉSIO ALVES DOS SANTOS, que possuía uma tropa de mais de 20 jumentos que ele escrevia com “G”. Aqui ele fez uma roça de 100 tarefas. O “DICUMÊ”, feito por minha mãe Maria Delfina, era levado para os trabalhadores em dois “gegues”: enormes cuias nos jacás, com arroz e feijão, tendo no bico uma generosa quantidade de doce – rapadura “raspada”, deliciosa! Coisa de “JÊNIO” para não contrariá-lo na gramática em sua morada no Oriente Eterno.

2 – Eu estava curtindo o meu doce e amado caipirismo ali na Canoa, terrinha boa e querida deixada por meu pai, mirando em direção à porteira onde segundo minha mãe foi enterrado o meu umbigo, quando, nas asas do pensamento, voltei ao BURITI CORTADO. E lá, via ALLAN KARDEC, me encontrei com o Sr. DOMINGOS CAIPIRA, o tropeiro genial que com uma taca de couro cru de boi, que “estralava”, comandava com maestria a marcha e o destino de 20 jegues como se músicos a obedecer a batuta de seu maestro. A minha idade era pouco menos de 12 anos. E ele me fez lembrar coisas do “arco-da-véia.” Ei-las:

3 – Às quatro da manhã, tendo o galo como relógio, era a partida do BURITI CORTADO. Duas latas (leite Ninho) de frito de galinha, além de carne seca e arroz se constituíam no “mantimento” da viagem, não esquecendo, por óbvio, a panela de gancho – pela inexistência de “trempe”. Eu, moleque de “tanga” curta, era o auxiliar do Domingos Caipira. Usar a montaria dos jegues – nem pensar, pois, já estavam sentindo o peso-pesado dos surrões de babaçu. O certo é que por volta das quatro horas da tarde, normalmente de um dia de domingo, estávamos no povoado BAMBU, aonde, adentrando à esquerda, e já por volta das 17/18 horas, “arranchados” em um povoado, redes armadas, cujo nome a memória não me socorre, soboreando o frito de minha mãe Delfina não sem antes retirarmos o peso e as cangalhas dos jumentos. À nossa frente a trilha dos postes do telégrafo como via de acesso à cidade de Timon. Coisa do passado, pois, hoje nem postes e nem telégrafo existem mais!

4 – Os postes e os fios do telégrafo nos conduziam exatamente à Rua do Fio, hoje Gonçalves Pedreiras, curiosamente com um bloco de escritórios, já no centro, feito por minha irmã Angélica, homenageando o nosso pai – GENÉSIO SANTOS. Às 8 horas da manhã, pontualmente, estávamos “descarregando” os surrões de côco babaçu nos armazéns do Coronel Luiz Firmino, gerenciados pelo competente e ágil LUIZ DE SOUSA PIRES, também e precocemente já falecido.

5 – A Rua do Fio, e sobre ela aqui já escrevi, era a rede que se estendia nos postes de ferro-gusa que se estendiam mundo a fora com os fios de cobre como condutores, aqui em Timon, das mensagens transmitidas e recebidas pelas mãos hábeis do competente servidor do DCT, Virgílio Rocha, a quem conheci pessoalmente. Verdadeiramente uma maravilha. Tempos maravilhosos em que o respeito, a ordem e a disciplina faziam parte das famílias brasileiras, e em especial, desta Timon. Não existia violência!

6 – Boa parte de minha juventude eu passei no povoado Buriti-Cortado. E por isso enquanto escrevia esta crônica rodava na minha boa radiola a música

BURITI CORTADO, jóia rara quanto desconhecida, de autoria da dupla Toinho e Zé Noronha, interpretada por TRIBO ASA, em gravação de 1982, um compacto, lado A, gravado nos Estúdios da Eco Publicidade, pertencente ao radialista Joel Silva, da Rádio Pioneira. Vou reproduzir apenas uma parte da composição referenciada, diga-se, muito bonita, como segue:-

“(…)

“A sinfonia dos pássaros

Faz na vida menor a solidão.

O riso mora em cada rosto

O harpejar do vento entre as palmeiras

Violas tocam a todo gosto

Levando a vida de qualquer maneira

NO BURITI CORTADO, o gorjear passaredo

Passarado só tem presente.

Não se toca no passado

Se leva a vida sem viver aperreiado.”

7 – Muito agradeço ao Sr. Domingos Caipira, que, pela imaginação, me fez reproduzir fatos que são repassados neste Túnel do Tempo.

8 – Ao BLOG DO ELIAS LACERDA os sinceros agradecimentos. Gil Alves dos Santos ([email protected]), telefone 86-9(9972-0524), advogado, bancário aposentado do Banco do Brasil.

2 Comentários

  1. Já estava sentindo falta desse saudosismo, que vc chama de caipirismo. O nome é o de menos. O importante é relembrar como a Historia pode ser contada. Como podemos viajar no tempo, relembrar coisas pitoresca que nos tornaram cidadãos de bem. E principalmente compreender a realidade atual de nossa cidade e o contraste com nossa zona rural. O tempo passa mas …

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Elias Lacerda

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Jornalista apaixonado pela notícia e a verdade