Saúde

Artigo escrito por Chico Leitoa: Desvios e Delações

Artigo escrito pelo engenho Chico Leitoa

EM 1992, logo depois de nossa retumbante vitória para Prefeito de Timon, tomamos conhecimento de que uma grande Empresa teria elaborado alguns projetos de infra estrutura e saneamento (calçamento, galerias e abastecimento d’água) a serem financiados com recursos da caixa econômica a título de empréstimo, tendo como garantia o FPM do Município por um período de 20 anos.

Galeria que contemplou os bairros: Bela vista, loteamento Boavista, parque Uniào, São Francisco I e II.

Projetos aprovados, o pedido de empréstimo começou a tramitar na câmara municipal, com totais chances de aprovação. Pra sorte de Timon, a votação na câmara ficou pra depois da eleição. Logo depois da eleição conversei com 4 Vereadores da base do governo que não foram reeleitos, que juntamente com outro Vereadores da oposição impediram a aprovação. Nos mesmos moldes, foram feitos e aprovados nos Municípios de Caxias, Coelho Neto e Campo Maior no Piauí, comprometendo por vinte anos as Finanças daqueles municípios.

A Empresa autora dos projetos, uma das maiores do ramo no País, nos procurou afirmando que estavam buscando conseguir recursos do orçamento geral da União, ou seja, a fundo perdido, para execução das obras, prevalecendo o contrato e mudando a fonte de receita. Coloquei um assessor para fazer as tratativas, com as devidas recomendações, afinal, eram algo  equivalente a 7,5 milhões de dólares.

Os recursos foram liberados em 93 e depositados de uma única vez em contas da Prefeitura na agência do Banco do Brasil de Timon.

Passamos a fazer uma análise nos contratos, que haviam sido assinados na gestão anterior, verificando as quantidades e os preços se eram condizentes. Constatamos um exagero tanto nos quantitativos como nos preços.

Chamei a Empresa para tentarmos  ajustar o contrato para que ficasse dentro da normalidade. A Empresa insistia para que eu pagasse adiantado todo o valor, através do Banco Econômico ficando como garantia, cartas de fiança de um banco Multiplique de São Paulo. A pressão era grande e  diária, chegando ao ponto de num determinado dia deixar o banco econômico agência de Teresina, aberto até às 20 horas e o pessoal dando pressão na Prefeitura para que fosse autorizada a transferência do dinheiro. Não cedi.

Na semana seguinte veio a Timon um sócio diretor da Grande Empresa e no gabinete fez as devidas ameaças caso não fosse feito o pagamento antecipado. Foi mais longe. Afirmou que aquele  recurso era um percentual para o “pessoal” de Brasília, 20% pra mim, a ser depositado imediatamente,  numa conta na Suíça, apenas com meu CPF, alem da garantia da aprovação da prestação de contas. Falei pra ele: Senhor, não tenho nem parente que tenha esse dinheiro. Ele fez mais algumas observações duras e foi embora mas deixou seu pessoal pra continuar a pressão.

Procurei o Ministro Alexandre Costa e o coloquei a par da situação. Ele me deu o devido apoio em minha posição. Do lado de Timon tinha um grande amigo e  colega Prefeito, Prof. Wall Ferraz. Fui conversar com ele também sobre o assunto pois estava temeroso de outro tipo de reação. Professor Wall me encorajou e eu de posse de um parecer do advogado Filadélfio Barreto de quem eu tinha solicitado um parecer jurídico, fiz o destrato e fiz nova licitação com novos quantitativos e novos preços unitários.

Como fizemos uma concorrência com vários lotes, chegamos a ter ao mesmo tempo dezenas de obras, na sua maioria com pequenas e médias empresas.

Apenas para se ter uma idéia,  o item calçamento contemplava 11.000 metros quadrados no bairro mutirão. Com a nova licitação fizemos, além dos 11.000 m2 do mutirão, mais 44.000 m2 nos bairros formosa, São Francisco I (Boa Vista) e rua 100 entre a rua 18 e bairro flores. O que era pra fazer um reservatório de água com capacidade de 500 m3  apoiado, no bairro São Francisco, fizemos mais um reservatório elevado de 300 m3 na rua 100 bairro flores. Além de uma grande quantidAde de rede alcançando mais de 200 km. O que era pra fazer 1 km de galeria tubular de 1m de diâmetro, fizemos praticamente 3 km de diâmetros diferentes, inclusive um trecho de modo celular, nos bairros, bela vista, loteamento Boavista, parque Uniào, São Francisco I e II.

Inauguração do Sistema de Abastecimento D’água do Parque São Francisco I e II

Em tempo, o Presidente Nacional da Fundação Nacional de Saúde, Sr Álvaro Machado Melo, veio para inauguração do reservatório apoiado no morro do bairro São Francisco, acompanhado do Engenheiro Mota. Terminadas as falas com os devidos elogios, falei pra ele: agora vamos inaugurar o outro reservatório. Mota falou: qual ? Falei: o outro que fizemos com a sobra de recurso desse aqui. E fomos pro bairro flores no final da rua 100 e inauguramos o reservatório elevado com capacidade de 300 m3 que passou a abastecer os bairros Flores, bela vista, loteamento Boa Vista, parque Piauí II, parte do Parque Piauí I e parte de cima de toda a rua 100, tirando a lata d’água da cabeça de milhares de pessoas.

Caixa d’água elevada da rua 100, no Bairro Flores

Caixa D’água do Parque São Francisco

Com as obras concluídas, Veio um fiscal, Eng Pedro Aurélio para proceder o recebimento. Depois de vistoriar tudo, ele se dirigiu a mim dizendo: difícil alguém fazer isso nos dias de hoje…

Falei pra ele: além de Você, pouca gente acredita numa história dessas, principalmente os julgadores, cuja a premissa é da culpa. Os adversários, esses mesmos é que não acreditam e nem querem acreditar pois julgam os outros por si.

…A população… essa nem sonha da luta e dos riscos que corri pra dar certo. Você que leu esse artigo também é tentado a não acreditar…

Hoje vejo o instituto das delações ganharem proporções e até substituindo a própria lei,  levando alguns a condenações e beneficiando pessoas que a única garantia de verdade são suas palavras.   Beneficiam-se das suas afirmativas em geral sem precisar provar. As delações têm previsão  legal e quando fundamentadas na verdade são de grande valia para elucidar casos de desvios e condenar culpados. Mas se são levadas a efeito de forma indiscriminada, podem premiar infratores que se valendo desse instrumento revestem de  mentiras os argumentos a seu favor.

Fico a imaginar, se estivesse aceito aqueles 1,5 milhão de dólares, as contas, segundo deram garantias estariam aprovadas. Mas se  por um outro motivo alguma coisa tivesse sido questionada, hoje com certeza estaria complicado, pois quem quase me forçou a aceitar o dinheiro estaria dizendo que eu teria exigido. Além do que a população teria deixado de ser beneficiada pelas importantes obras executadas com a aplicação correta dos recursos.

Engenheiro Chico Leitoa

Setembro de 2021

2 Comentários

  1. Parabéns ao povo de Timon, Timon e toda cidade merece representantes
    Honesto, sabemos que a política é o meio mais fácil e rápido de amealhar fortuna, muitos procuram a política como meio de locupletação com o dinheiro público “do povo” quando gestores agem assim em benefício do bem comum merecem nossos aplausos. É sempre bom conhecermos a história.

  2. Esses fatos aconteceram na íntegra e tiveram grande repercussão aqui em São Luís na época. Mesmo depois de tanto tempo, muitas pessoas ainda se recordam e fazem questão de reviver a história

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Elias Lacerda

Elias Lacerda

Elias Lacerda
Jornalista apaixonado pela notícia e a verdade