Artigo questiona o desmatamento dos babaçuais e áreas naturais para expansão do Matopiba no Meio Norte

Acima o processo expressivo de desmatamento no Cerrado (área prioritária mundial para conservação da Biodiversidade) com aumento significativo de áreas naturais.

É NECESSÁRIO DESMATAR TANTOS BABAÇUAIS E ÁREAS NATURAIS PARA EXPANSÃO DO MATOPIBA NO MEIO-NORTE? UMA REFLEXÃO INICIAL

Prezados leitoras e leitores, há tempos não escrevo nesse portal, pelo qual tenho grande apreço. Obrigado senhor Elias Lacerda pelo apoio e amizade. Através daqui não perco Timon e adjacências de vista. Parei de escrever por um tempo por ter me retirado presencialmente de Timon, apesar da mente e coração estarem por aí. Porém, com planos oficiais de expansão do MATOPIBA senti que era momento de voltar a escrever.

Mas o que seria o MATOPIBA? Uma região destinada ao agronegócio formada por partes do território do sudoeste do Piauí, sul do Maranhão e Tocantins, onde ocorre o bioma Cerrado (as conhecidas chapadas): Balsas, Uruçuí, Corrente, dentre outras cidades.

Quando eu fazia faculdade entre 2002 a 2005 o governo do Piauí levantava bandeiras da soja, do agronegócio como a “salvadora” do estado, a fonte de muitos empregos, renda, melhoria de qualidade de vida. Infelizmente, o que presenciamos, ao menos em boa parte do tempo, foi o contrário: boa parte dos trabalhos mecanizados, pouca mão de obra absorvida, agrotóxicos muitos contaminando nossas reservas de água doce (ouro transparente) e recursos financeiros, em sua maioria, indo para fora até do Brasil.

Quero deixar claro que não “demonizo” o agronegócio, pelo contrário, acho muito importante para nosso crescimento econômico. A sustentabilidade, que tanto defendo, tem três matrizes: econômica, social e ambiental. O que não concordo é com práticas arcaicas e sem preocupação de diminuição de impactos ambientais, culturais e sociais, além da saúde pública.

O Zoneamento Econômico e Ecológico do Maranhão (ZEE) foi finalizado agora e é um instrumento muito importante para gestão socioeconômica no estado. Tive a honra de colaborar junto ao competentíssimo Dr. Tadeu Gomes da UEMA, São Luís, meu supervisor no primeiro pós-doutoramento e parceiro de pesquisas. Esse pesquisador se encontra entre primeiros em rankings da América Latina e mundial, levando o nome do nosso estado, do Nordeste e Brasil mundo afora.

Há planos de expansão do MATOPIBA do sul do Maranhão para região de Caxias, Timon, Matões, Parnarama, ou seja, para o norte do estado. O centro-norte do Maranhão ainda possui vastas áreas de babaçuais e outras espécies de plantas de valor econômico, pouco ou nada utilizadas e muitas cidades com índice de desenvolvimento humano baixos. Existem problemas ou “gargalos” nas cadeias produtivas? Sim! Mas existem várias possibilidades de uso sustentável, de geração de centenas e centenas de empregos, de renda, de aquecimento de comércios locais e regionais, de canais de comercialização com a indústria, além de vinda de indústrias.

Produtos beneficiados pela Cooperativa de Lago do Junco, maranhão, um exemplo da importância dos investimentos e estruturação da cadeia produtiva do babaçu para melhoria de qualidade de vida dos maranhenses.

Uma palmeira de babaçu equivale a uma árvore de uma espécie ameaçada de extinção no Brasil. Secretaria de Meio Ambiente do maranhão, por favor! O agronegócio pode ser expandido, mas pensado sob um paradigma diferente: PAISAGENS SUSTENTÁVEIS. Mas o que “diabo é isso”? Vamos lá… são sistemas consorciados onde você prioriza para áreas para conservação onde há forte presença de espécies ameaçadas, que só ocorrem na região e de valor econômico (caso do babaçu), dentre outros pontos, ou seja, não são todas as áreas que não podem ser usadas para a agricultura..

Entendam, por favor: agronegócio não precisa competir com cadeias produtivas.. Pelo contrário, os empresários do agrobusiness sabem que os tempos são outros, das legislações e que precisam se alinhar a práticas mais sustentáveis possíveis. O MERCADO EXTERNO EXIGE ISSO! Outro ponto: nas lavouras muito maquinário e poucos trabalhadores; nas cooperativas e associações menos maquinários e muitos postos de trabalho.

Cartilha de uma série elaborada por uma ONG reconhecida internacionalmente: Conservação Internacional. Precisamos de projetos como esse para região de Timon e municípios vizinhos durante a expansão do MATOPIBA.

Não enterrem as cadeias produtivas de nossos recursos naturais, pois com elas vão histórias, sonhos, cultura, grupos tradicionais, postos de trabalho, meio ambiente, sustentabilidade. A cadeia do babaçu não é nada, como afirmou em audiência pública em 2020 o atual secretário de meio ambiente de Timon (espero que tenha se arrependido da fala desastrosa e aproveite o cargo para estudar e crescer em conhecimento). Sempre é tempo!

O texto está ficando longo. No próximo aprofundarei o conceito de paisagens sustentáveis e outras possibilidades. Deixo um link para publicações muito boas sobre experiências com paisagens sustentáveis no MATOPIBA da Conservação Internacional, ONG respeitada internacionalmente (lá embaixo). Até mais. Grato pela leitura.

Dr. Cleuton Lima Miranda
Mestre e Doutor em Zoologia pela Universidade Federal do Pará/Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, Brasil
Pós-doutor pela programa de pós-graduação em Ciência Animal, UEMA, São Luis, Maranhão, Brasil
Pós-doutorando pelo programa PROTAX/CNPq, Universidade Federal do Amazonas, Manaus, Amazonas, Brasil
 
Celular/Whatshapp: (98) 981955952
 
Skype: cleuton.miranda2
 

Elias Lacerda

Jornalista apaixonado pela notícia e a verdade

Um comentário em “Artigo questiona o desmatamento dos babaçuais e áreas naturais para expansão do Matopiba no Meio Norte

  1. A palavra do momento é a sustentabilidade é importante que entendamos isso e não aceitarmos manobras políticas que vão na contra mão da preservação das nossas riquezas ambiental, cultural, social,etc.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *