Crônica Relato – Por Daniele Lima

                                                                                                                                       

                                                            Crônica Relato

Vim para mais perto do meu caminho. Para onde minhas mãos podiam sentir outra vida. Para
onde havia mais que passado. E, em toda jornada que antecede o perigo, havia algo em que
eu podia acreditar. Apesar das pestanas frias do silêncio em quase todo som que eu ouvia.
Eu me recordo como se fosse ontem. Todas as fases que inundam nosso caminho de marcas.
Os cochichos inaudíveis sobre quem nós somos. Ou porque. E estou em casa, sabendo que
nenhuma resposta será dada. O rio que passa infinitamente sobre mim. Essa manhã tão cheia
de luz e glória. A mais linda canção que já ouvi na vida: a voz da minha mãe neste sonho
noturno. Sim, todas as coisas são proeminentes e existem e tem algo de único. Não há como
sentir medo. Ou frio. Tudo em volta de nós é perfeito e inabalável. Esse pequeno respingo de
chuva é a própria imensidão da palavra Dele. As sentenças que imagino que foram dadas.
Meu pequeno diário escrito à mão. No fundo ainda somos os mesmos, só que menos sábios.

Estou ouvindo cada dia que se passa, e cada dia que ficou eterno. Se você quisesse amanhecer
num tempo distante, poderia. Ainda que eu olhasse demoradamente para o pequeno
dente-de-leão, não seria capaz de compreendê-lo. A perfeição. Eu não sei nada sobre isso.
Um emaranhado de coisas que fluem sem se tocar. E este céu com nuvens lilases e frescas.
Essa pequena mão que escreve. A lagoa que reflete nossas almas. Trêmulas e cheias de
mistérios. É um acontecimento raro. Estar aqui. Numa borda infinita de sabedoria. Num
pequeno rio chamado tempo. As imagens que se repetem na mente. Um dia após o outro,
como se estivessem de mãos dadas. E não foi nada como o que ouvimos. Estes rabiscos são
indecifráveis. Eu os leio com uma lupa chamada dor. Mas, por todo o caminho, a serenidade
no topo de todas as coisas, te faz repousar.

Daniele Lima é jornalista e escritora timonense

Elias Lacerda

Jornalista apaixonado pela notícia e a verdade

Um comentário em “Crônica Relato – Por Daniele Lima

  1. ‘CAMINHOS DE MARCAS”

    Daniele, se teu percurso é de saudade, beleza e também de dor, tua lupa é mágica e te põe na trilha das palavras. Continue ampliando teus olhares feito Clarice ou Emily Dickinson e não temas em mergulhar na lagoa que tua alma e a alma de quem, sincronizada a tua, sob os auspícios de um tempo, parece não perder o toque da leveza, mesmo sem se tocarem. Bom ler tua crônica nesta terça-feira em que me vejo como se fosse um escafandrista do asfalto, aguardando uma quarta-feira que já é cinzenta antes mesmo de o ser.

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