Saúde

Em artigo, professor analisa a cadeia produtiva do babaçu e a morte da quebradeira de coco e o filho dela no Maranhão

Por Cleuton Lima Miranda

Sábado último, dia 13, acordei com a triste notícia do assassinato de uma senhora quebradeira de coco, a sra. Maria José Rodrigues, e de seu filho José do Carmo C. Júnior de 38 anos (ambos na foto acima), no município de Penalva, Maranhão. Motivo? Estavam quebrando coco babaçu em propriedade privada. Segundo informações de secretaria de governo as autoridades competentes já estão tomando providências.

O histórico de conflitos entre proprietários de terras, especialmente no sul do Maranhão, onde as atividades agropecuárias são desenvolvidas há mais tempo vem de longa data. Propostas de leis muitas tramitam acerca do babaçu, sendo a mais conhecida a Babaçu Livre.

Essa cadeia produtiva apesar dos vários problemas, como o de conflitos com proprietários rurais, necessidade de mais investimentos e de maior porte na estruturação e capacitação técnica, regularização fundiária e canais de comercialização em nível regional, nacional e internacional possui grande potencial para geração de renda e melhoria de qualidade de vida de populações socialmente vulneráveis. Vejam os boletins do Conab do Ministério da Agricultura. São dados oficiais. Mesmo com menor produção aumento no volume financeiro.

Quero destacar que a gestão estadual tem desenvolvido várias ações louváveis nesse sentido, mas a problemática é antiga e complexa. Precisamos nos dar conta que essa cadeia traz em seu bojo cidadãs e cidadãos maranhenses, trabalhadoras e trabalhadores, forte componente cultural e social, além dos fatores ambientais e econômicos.

Econômicos? Sim! A sustentabilidade que é a segunda área que mais cresce no mundo e que gerará muitos empregos e rendas e que é prerrogativa para que qualquer nação, estado, município consiga avançar no mundo globalizado. Eu iria escrever sobre a COP 26 hoje, sobre Glasgow, Escócia, a problemática ambiental grave em nível federal e a assinatura do Brasil se comprometendo a cumprir metas fake news até 2030 para receber recursos de fundo internacional. Lembremos: perdemos fundo milionário não faz muito tempo e os efeitos ambientais e econômicos são catastróficos! Assunto para outro texto.

Faço um apelo aos estimados leitores como tenho feito a gestores, a empresários, por onde tenho andado, aí no Maranhão e aqui em São Paulo. Precisamos de ações mais amplas. A celeridade para regularização fundiária é passo fundamental junto às tratativas previstas em legislação já vigente de isenções e benefícios para proprietários que aderirem ao movimento de organização justa.

Repetirei mil vezes: agronegócio, atividades agropecuárias e cadeia do babaçu e extrativismo de outras palmeiras de valor econômico não são como água e óleo. Podem ser pensadas em conjunto, Já citei as paisagens sustentáveis e vou escrever mais sobre mecanismos e experiências já existentes.

Ouvir de alguns gestores em nível estadual e municipal do Maranhão desde 2018 que a cadeia do babaçu está enterrada, que não tem como competir com o agronegócio e sua expansão, de me mandarem pegar detentos e ir trabalhar acorrentado em campos de buritizais no sol quente como castigo, de fazerem promessas falaciosas e que nunca se cumprem. Até em campanha entrei na parte técnica para ter espaço para trabalharmos junto à população a importância desse tema em campanha. Foi a única coisa que pedi. Foi cumprido? Nem isso. É muita falta de humanismo, de visão de gestão. Enquanto isso derramamentos de sangue e tantas coisas ruins. Eleições para deputado estadual estão aí. Analisem, por favor, o currículo, a trajetória de cada candidato.

Finalizo agradecendo ao secretário de agricultura familiar do Maranhão, sr. Rodrigo Lago e sua equipe pela atenção, pelas ações envolvendo a cadeia do babaçu, pelo Procaf babaçu, e outros agentes públicos que tem se esforçado também. O meu abraço apertado a todos parentes e amigos das vítimas, todas quebradeiras de coco babaçu e trabalhadores rurais, todos aqueles que lutam em prol do babaçu e outras espécies de nossa sociobiodiversidade maranhense e brasileira.

Dr. Cleuton Lima Miranda
Biólogo e pós-doutorando pela Universidade Federal do Amazonas em Biodiversidade e  Evolução. Docente de ensino superior e básico. Divulgador científico. Mentorando na área de Empreendedorismo, startups e Bioeconomia, com ênfase para cadeia produtiva do babaçu.
Celular/Whatshapp: (98) 981955952
 
Skype: cleuton.miranda2
 

6 Comentários

  1. Conheço esse trabalho de quebradeira de coco, e como funciona.ou seja, tenho conhecimento de causa, Lamento a forma como como resolveram a situação dessa senhora. Mas nao concordo que as pessoas se apodere do que é alheio. Sei o tanto que é ruim voce vê alguém pegar o que você lutou pra ter(tereno) Eu também já passei por muitas necessidades .Mas não tenho nada as custa do suor dos outros. Peça, mas não adentre ao que e alheio.

    1. Francisca, obrigado por comentar. Ao longo do texto aponto que a regularizacao fundiaria e as negociacoes com os proprietarios de terras nesse processo de estruturar a cadeia do babacu sao passos importantes pra se evitar isso. Nso sou a favor se entrar em terras privadas sem permissao, mas ja tem lei que protege os babacuais. Pq estao derrubando tanto? Se o poder publico fizesse seu dever de casa a violencia diminuiria, pois, acredite, ia ter proprietario implorando pra fazer parte de um movimento organizado. Por fim, podiam ter chamado a policia, boletim de ocorrencia. Isso nao e motivo para matar pessoas.

  2. Parabéns Dr Cleuton Lima Miranda!
    Excelente matéria,fico impressionado tamanha crueldade e isso vem desde sempre,dos nossos povos originários.
    E essa questão de assumir compromisso fake é muito comum em nosso país,pouco se importam,o que eles querem são os recursos,seja federal, estadual ou municipal é isso,

    1. Obrigado, meu nobre. As falsas promessas que ajudam a ceifar vidas. A falta de fazer o dever de casa, do poder publico, ao longo do tempo, da nosso! Mas ainda ha tempo. Sempre ha tempo. A sociedade, todos nos. Precisamos contribuir pressionando prefeitos, secretarios. Gov do estado, ministerio publico etc. Nem vou falar em governo federal pq odeiam declaradamente isso. Tem bons gestores ai no Maranhao que tentam, mas tem muitos que nao estao nem ai. Precisamos fazer um movimento mais amplo.

  3. O extrativismo do coco babaçu no Meio Norte do Brasil está em ênfase como meio do princípio cultural, este passado de gerações e gerações . As leis deveria haver pra esse humilldes trabalhadores e trabalhadoras que se mantém através da quebra do coco babaçu. O fato de alguém ter uma terra por direito , e alguém furtar ou roubar uma galinha deve existir realmente o Boletim de Ocorrência e a justiça atuar . Agora alguém quebrar cocos pra sobreviver e, ser tirada a sua vida. Não somos a favor de vidas serem perdidas pela violência sem o motivo justo . E, que ter que pagar pela mesma, mais ainda revoltante…A reflexão que ninguém tem que tirar a vida
    de ninguém , exceto em legítima defesa de si e da sociedade . Agora vidas serem destinadas para o cemitério por causa de um coco. Podem fazer o levantamentos dessas terras que tem babacuauis , os mesmos se estragam e não servem para bovinos comerem e, sim sao constantemente desmatadas – a natureza sofre e chora. Tudo deve partir do bom senso e acordos entre latifundiários e quebradora de cocos, bem como a justiça política, a social, a ambiental e a cultural estarem embuidas nesse N . A vida não vale um coco quebrado , mas na fome deve se buscar alternativas para sobrevivência , a cultura das quebradeiras de cocos babaçu precisa permanecer viva , mas vale o coco quebrado do que os tratores D8 desmatarem as terras para alimentar bovinos , e estes liberaram metano e levando como consequências: o desequilíbrio ambiental , o aquecimento da terra e por fim a destruição da terra.
    (,,,) Mas vale o coco quebrado do que uma vida humana perdida. Todo respeito ao bem da humanidade .

  4. Caro Romulo, sempre com devolutivas pertinentes. Obgado. Resumindo: regularizacao fundiaria e organizar a cadeia. Paisagens sustentaveis. Prefeituras tambem presentes. Sociedade presente. Isdo certamente com o tempo diminuira problema tao grave e triste. Se organizassem a cadeia ia ter proprietario atras, implorando para as cooperativas colherem os babacus de suas terras, pois eles tambem teriam retorno. Precisamos usar um modelo de uso diferente, dentro da seara da Bioeconomia, empreendedorismo, onde todos os atores sejam contemplados. Babacu e dadiva e nao desgraca! Pode coexistir com agronegocio sim!

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Elias Lacerda

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Elias Lacerda
Jornalista apaixonado pela notícia e a verdade