Os buritis e o combate à fome e desnutrição: reflexões para o Meio-Norte

Por Cleuton Miranda – O buriti é uma palmeira que chega a alcançar 40m, ocorrendo na América do sul, principalmente nos Cerrados do Brasil (nas chapadas). O seu nome científico é Mauritia flexuosa. Ocorrem nas veredas ou brejos e precisam de acesso à água para sua sobrevivência, mesmo que apenas o solo encharcado durante o período seco.

De tal palmeira majestosa podem ser gerados produtos a partir da capemba, dos talos, das palhas, das sedas, das embiras, das cascas dos frutos, da polpa do fruto, do óleo, do tronco e raízes. São várias as possibilidades, destacando-se as da indústria alimentícia (doces, sucos, sorvetes) altamente nutritivos, artesanato de ótima qualidade em nível de exportação, produção de mudas, móveis, dentre outras possibilidades. A produção de mudas precisa ser intensificada, para uso dos buritis nos projetos de recuperação de áreas degradadas ou mesmo em fazendas com irrigação.

Ano passado tive a satisfação de assistir à apresentação de um trabalho científico belíssimo de uma jovem pesquisadora maranhense, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Maranhão (FAPEMA). Tratava do uso das folhas do buriti para confecção de sacolas biodegradáveis. Fiquei muito feliz e logo em seguida triste. Feliz pelo resultado e implicações importantes da pesquisa uma jovem maranhense, porém triste por saber que nossos buritizais estão desaparecendo e que a escala de produção das sacolas seria pífia (pequena) diante do cenário atual, infelizmente.

Senhores, nossos buritizais correm sério risco, assim como outras espécies de nossa sociobiodiversidade brasileira (ex: babaçus, bacuris, almesclas e macaúbas), muito importantes para o desenvolvimento sustentável do meio-norte do Brasil, para o combate à desigualdade social e geração de empregos, rendas alternativas e, sobretudo, dignidade ao trabalhador e trabalhadora. A bendita água está cada vez mais difícil: desmatam as matas ciliares (que margeiam os cursos d’água e protegem nossos riachos e rios de secarem); muitos represamentos ilegais na zona rural de Timon, por exemplo, com anúncios de lindas piscinas naturais até na OLX (é surreal); desmatamento para atividades agropecuárias (fora das diretrizes previstas na legislação ambiental); a queima dos buritizais. Secretarias de meio ambiente, por favor, dever de casa.

Há poucos dias recebi uma reportagem muito interessante da BBC Brasil de um “cabra” que admiro demais e sou muito grato por me incentivar e compartilhar seu

conhecimento vasto e tão necessário à nossa região, à Timon. Obrigado, defensor Ricardo! Era sobre a importância do buriti pra combater a fome e desnutrição, que doem para além do corpo físico, ferem a dignidade humana, do pai de família, da mãe chefe de família que não sabem o que colocarão na mesa para seus filhos comerem nesse momento em que você faz essa leitura. Espero de coração que de “bucho cheio”.

Faço aqui um apelo à sociedade, a você prezado leitor, à iniciativa privada, aos senhores gestores e parlamentares eleitos pelo povo (deputados, prefeitos, vereadores). Por obséquio, ações rápidas e concretas para preservação de nossos buritizais, para seu uso racional e sustentável, para capacitação de trabalhadores, para organização da cadeia produtiva do buriti, para a criação dos canais de comercialização, para melhoria de qualidade de vida de cidadãos e cidadãs maranhenses e piauienses, brasileiros, que se encontram em situação de insegurança alimentar.

Que potencial gigante nós temos! A sustentabilidade é a segunda área que mais cresce no mundo! É tendência global! Temos tudo para nos destacarmos do ponto de vista social, econômico e ambiental. O que temos feito? Quase nada!

Corremos o grande risco das gerações futuras praticamente não verem “buritis” pelos interiores. Vou além: de não usarmos ferramenta tão importante em prol de nossa sociedade. Projetos, ações, investimentos do setor público e privado, cooperativas, pesquisas, buriti na merenda escolar, na casa de quem está passando fome, necessidade, e daquele que felizmente não está sob vulnerabilidade alimentar, mas pode contribuir para a estruturação dessa cadeia produtiva e preservação dos buritis, além de se deliciar com fruto tão saboroso e nosso, de nossa terrinha.

Finalizo com um trechinho da canção Sagarana, imortalizada na voz da grande Clara Nunes: “ Quem quiser que conte outra, mas na moda dos Gerais. Buriti rei das veredas. Guimarães, buritizais!”. Meio-norte, buritizais! Até mais. Obrigado.

Cleuton Lima Miranda

É Pós-doutor em Biodiversidade. Professor de Escola Integral de Ensino Básico e Técnico do estado de São Paulo. Atua na área de Biodiversidade,

Empreendedorismo, Startups e Bioeconomia. Participação em editais regionais e nacionais sobre Empreendedorismo, envolvendo a cadeia produtiva do babaçu. Sócio-fundador da Startup Casa dos Babaçus de produtos naturais.

Elias Lacerda

Jornalista apaixonado pela notícia e a verdade

7 comentários sobre “Os buritis e o combate à fome e desnutrição: reflexões para o Meio-Norte

  1. O Brasil Sul/Sudeste acressido da Bahia, Pernambuco e Ceará, tem que tratar os demais Estados como realmente integrantes de uma federação porque até a presente data são meras colônias tipo Guiana Francesa com relação à França.

    1. Obgado pelo comentário. Concordo plenamente: precisamos de mais visibilidade. Potencial temos. Faltam políticas públicas!!!

  2. Matéria excelente, a qual retrata a falta de conscientização dos gestores públicos e privados no tocante ao meio ambiente e, a conservação cultural do fruto buriti. Alimento nutritivo que, além de fazer parte da conservação dos solos e riachos, também.pode ser fonte de renda paras famílias carentes da zona rural . Há uma visão sistemática sobre essa riqueza sustentável: buriti.; Que se justifica na diminuição do êxido rural, basta haver planos e projetos sobre esse N. Deveria existir também projetos associados não só ao buriti , como também a conservação do tucu, da macaúba, do babaçu , do caju silvestre dentre outros . Sendo não só pra sustentabilidade humana , bem como alternativa para os animais de produção, bovinos , Caprinos , ovinos , suínos e aves . Como esses alimentos naturais services como reserva alimentar desses animais . Portanto , o homem e os animais de produção, juntamente com o meio ambiente em sistema de teia alimentar ecológica conservada . Homem do campo no campo e na natureza .

    1. Romulo, como sempre perspicaz. Sim. São muitas as possibilidades. Vou além: além do êxodo rural tem o efeito cascata positivo para todo o município e região. Se políticas públicas adequadas fossem implementadas teríamos muita gente da zona urbana obtendo seu ganha pão na zona rural, dignamente. Pra área de zootencia como bem coloca é grande o potencial, hein… Abração.

  3. Parabéns! Foi bastante enriquecedor a mensagem e o alerto para preservação de uma árvore tão essencial do nossa flora.

    1. Raimundo, gratidão. Fico contente que o texto tenha sido útil para você. Espero que tenha sido para várias outras pessoas. Um abraço.

  4. Obrigado pelo comentário. Precisamos de mais visibilidade para o meio-norte (com seus muitos poteciais, problemas e desafios). Nesse sentido, nossos parlamentares (deputados federais e os senadores) tem papel muito importante, inclusive de trazer emendas. Secretários estaduais também. Gestores municipais. E cada um de nós, como cidadão.

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