Do blog do John Cutrim –Contrapor-se ao “oportunismo judicial” é muito mais do que defender a preservação dos direitos e garantias de uma determinada pessoa. Significa defender a manutenção e a ampliação das conquistas civilizacionais. É o que diz o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), sobre os excessos jurídicos que o país tem presenciado.
Ressaltando que a Lava Jato vem cumprindo um papel fundamental para o Brasil, Dino alerta que é preciso cautela para não levar o próprio Judiciário à ilegitimidade. Em entrevista à Revista Fórum na noite desta quarta-feira (31), o governador disse que a percepção dessas distorções jurídicas tem ficado mais explícita.
“Não havia essa compreensão, isso ficou mais nítido a partir dos eventos do impeachment”, afirma. “Demorou um certo tempo para a ficha cair.” O governador vê o crescimento da antipolítica como parte desse processo que envolve o “oportunismo judicial”.
“O que veio depois do impeachment foi pior do que eu imaginava. O Brasil caminhou para trás tanto do ponto de vista social, quanto político e jurídico”, afirma Dino. Ele ressalta que a conquista de direitos se dá por meio do poder público, o que exige a prática política. Ao relegar a política a um plano marginalizado, o que sobra é o retrocesso, avalia.
Lava Jato, sim
“Não se trata de dizer que a Lava Jato tem que parar”, diz o governador, acrescentando que, como juiz, assinaria 80% das decisões da força-tarefa.
“Quando eu digo que é um absurdo essa sequência de processo judiciais contra o Lula, é uma análise técnica, jurídica”, afirma, fazendo questão de lembrar que o petista não o apoiou nas eleições de 2010 e nem de 2014 no Maranhão. “Eu tenho muita autoridade para falar porque ninguém pode dizer que sou lulista de carteirinha.”
“Tudo o que eu vejo são narrativas, presunções, convicções. Expor esse ponto de vista é muito maior que defender os direitos políticos do presidente Lula. Eles são pequenos perto do debate real, do risco que isso representa para todo mundo.”
O governador também diz que muitas vezes ouve queixas sobre a frequência com que se debate a presença do fascismo no momento atual. “A gente fala muito em fascismo porque de fato há uma escalada de viés fascista. É essa prática de desqualificação do diferente, da imposição de pontos de vista unilateral. O nome disso é fascismo. E diante dessa escalada, a gente vê como reflexo o sentimento antipolítico”, afirma.
Dino acredita que a solução para a preservação das conquistas civilizacionais passa pela unificação da esquerda e também pelo amplo debate no país. É preciso dialogar com os diferentes campos ideológicos
“A gente precisa disso porque o processo de conquista de direitos não é instantâneo, é de longo curso, principalmente em sociedades complexas como a brasileira”, acrescenta.