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Crônica: Mestre na descrição de eventos do passado, Dr. Gil Santos fala de Waldick Soriano e conta como foi sua última passagem como estudante em férias pelo povoado Santo Antonio da Cana Brava, em Matões

 

TÚNEL DO TEMPO:- O POETA DO POVO

Por Gil Alves dos Santos

1 – Julho de 1964. Sexta-feira, dia 24. Povoado SANTO ANTONIO DO CANA BRAVA, MUNICÍPIO DE MATÕES (MA). Hóspede de Palmira Veloso, grande, valiosa e querida amiga, irmã de meu compadre, amigo fraterno FRANCISCO VELOSO BARROS, já no oriente eterno. Por ser o período de Desobriga – época em que padres da Paróquia, passavam até três dias nas Comunidades doutrinando e celebrando a liturgia da Igreja Católica – mistér que eu bem conhecia por ter acompanhado, como aprendiz de “coroinha”, os Padres Delfino e Tarcísio. Lembro que o último povoado em que visitamos chamava-se Babado, nas imediações do Zumbi. Também na Carolina, município de Caxias (MA), de meu padrinho Antônio Setúbal Filho, era outra comunidade conhecida pelos eventos:- MISSA E FESTA.

2 – As celebradas e esperadas Desobrigas também atraiam outras e tão ou mais aguardadas agitações juvenis:- as festas dançantes, realizadas sempre na casa ou por conta de pessoas de destaques e de posses da região. No Santo Antônio, o festeiro era o cidadão ZECA VELOSO, já falecido, pai de Francisco Veloso e de Palmira. Muitos estudantes, moças e rapazes, aguardavam com ansiedade – e bota ansiedade nisso. Era o tempo ou época: Do “ferro de gomar em brasa.” Do Brim coringa. Do DKW-Vemag. Do Aero-willys para os barões. Da caminhão com manivela[vela-a-mão]. Do Melhoral, o analgésico mais usado no

Brasil. Da Geladeira a querosene jacaré. Do anil para deixar a roupa branquinha! Do cavalo de sela, esquipador. Do boi “encabojado” para vaqueiros experientes. Poeta era homem e poetisa, mulher. Do namoro sério para casamento entre homem e mulher – gêneros únicos então existentes. Os bons costumes e o respeito à família eram santamente preservados.

3 – No rádio se ouvia:- a Triste Partida, com Luiz Gonzaga; Disparada, com Jair Rodrigues; Doidivana e a Flor de Meu Bairro, com Nelson Gonçalves; Trem das Onze, com Demônios da Garoa; Pressentimento, Onde Estás Agora e Quero Beijar-te as Mãos, com Anísio Silva. E aquela que é a razão desta crônica – A CARTA, cantada por WALDIK SORIANO, gravada em 1963, mas lançada no LP-“O Elegante” em 1964. Sim, “Elegante”, é o título desse LP – e o meu está bem preservado. Com arranjos primorosos do maestro FRANCISCO MORAES e orquestra do selo Chantecler, que significa canto claro, que, para rivalizar com o cachorrinho da RCA, adotou o galo como sua logomarca. E o galo da marca realmente canta muito bem!

4 – Como está dito acima, era JULHO DE 1964, e eu estava no Santo Antônio do Canabrava. Período das férias escolares. Eu tinha deixado o Exército e já estava cursando o científico, no Liceu Piauiense. Mas um acontecimento me tirou da festa realizada sob o patrocínio do “Seu” Zeca Veloso. É que em decorrência de minha aprovação em concurso público para o Banco do Brasil houve a convocação para o emprego justo no mês das férias e meu pai, o GENESÃO DE AÇO, pegou o jeep de um vizinho e foi me buscar exatamente no dia da festa – aí por volta das 16 horas estava retornando para Timon – e a Carta não foi

entregue, nem lida e nem dançada com a pretendente, se quisesse ouví-la.

5 – Essas distantes lembranças me vieram à mente após ter assistido, já pela 17ª vez, o WALDICK AO VIVO, que é o show em DVD da Som Livre, organizado e dirigido de forma espetacular pela artista Patrícia Pilar, em novembro de 2006, no Teatro Luiz Severiano em Fortaleza, Ceará. Waldick, falecido em 04.09.2008, continua sendo um cantor idolatrado pelo povo brasileiro, encantado e embriagado por seus boleros, canções e cartas apaixonados.

6 – O artista e crítico musical AQUILES RIQUE REIS, músico e vocalista do MPB4, na excelente COLUNA DO AQUILES, de 16/03/2008, do JORNAL MEIO NORTE, a propósito do show do poeta WALDICK SORIANO, realizado pela Senhora Patrícia Pilar, escreveu o seguinte:- “[…] Acompanhado por bela orquestra, com iluminação a cargo de Maneco Quinderé, deles resultou o DVD Waldick Soriano ao Vivo (Som Livre). Trabalho de extremo bom gosto e carinhosamente criado para relembrar alguém que, na verdade, nunca saiu nem sairá do coração de sua gente que tanto o ama. Com a direção musical a cargo da experiência e do talento de José Milton, foram convocados alguns bons arranjadores, Itamar Assiere, Ivan Paulo, João Lyra e Ítalo (que na orquestra tocam violão e acordeon, respectivamente) e Jota Moraes (pianista e regente do grupo de 12 músicos escolhidos para acompanhar Waldick).”

7 – A Carta, que não é de Waldick, mas da dupla Jorge Gonçalves e Júlio Louzada [eu o conheci como locutor da Rádio Tupy, do Rio de Janeiro], tem o belíssimo arranjo de Jota Moraes e, como destaque, a estupenda interpretação do saxofonista

cearense Márcio Resende. É algo que só o gênio humano explica. A Carta, por razões que desconheço, nas palavras de meu compadre Veloso, disputado dançarino nas festas em que estávamos presentes, não foi tocada na festa, e assim está cantada pelo POETA DO POVO, Waldick Soriano, compositor que embriaga os fãs com seus boleros maravilhosos, verbis:-

“…………………………………………………………………….”

“Minha querida, saudações/Escrevo esta carta/Não repare os senões/Para dizer o que sinto longe de ti/Amargurando na saudade as horas vividas com felicidade/.

8 – Foi a última vez que estive no Santo Antônio do Cana Brava, na casa da Palmira, como estudante em férias escolares. 9 – Gil Alves dos Santos ([email protected]), é bacharel em Direito e funcionário aposentado do Banco do Brasil

1 Comentário

  1. Fico muito ludibriado pelas lindas recordações da minha família simples e humilde que são exemplos para nos

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Elias Lacerda

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Elias Lacerda
Jornalista apaixonado pela notícia e a verdade