Saúde

O meio norte do Brasil tem macacos? Tem sim senhor! E vários

O Brasil é um país megadiverso, ou seja, possui elevada riqueza de plantas, animais e microorganismos (seres não visíveis a olho nu). Curas para muitas doenças estão em nossa Biodiversidade (riqueza de plantas, animais e outros seres vivos). Soluções para várias mazelas. Os povos tradicionais já tem bom conhecimento. Esse conhecimento aliado à pesquisa é essencial. Mas com a Amazônia em chamas, sendo destruída… o Cerrado enfrentando “correntão” sem dó derrubando tudo e a Caatinga com a desertificação, mas isso daria um outro texto, meus amigos. Voltemos à fauna, aos macacos nesse momento.

A fauna brasileira é exuberante e muitas espécies só correm aqui (chamamos de endêmicas) e em algumas regiões pontuais. Temos o maior número de macacos do mundo e de vários outros grupos da Biodiversidade. Quando pensamos em macacos, pelo menos suponho que sua imaginação vai direto até a Amazônia, que, de fato, tem maior riqueza de primatas do mundo, talvez Mata Atlântica por causa do mico leão dourado. Mas prezado leitor, gostaria de lhe informar que mesmo a Amazônia e Mata Atlântica possuindo mais primatas que Cerrado e Caatinga, nós também temos aqui no meio-norte vários macacos que precisam de proteção, de políticas públicas.

Posso lhes apresentar alguns? Vamos lá! Tenho certeza que conhece alguns ou já ouviu falar, principalmente através de seus avós, pais. Os amigos da zona rural certamente.

Acima o macaco Soim- vivem em pequenos grupos e se alimentam de insetos e goma das árvores.

O soim (Callithrix jacchus) que é um macaquito que se adapta bem a ambientes urbanos e na zona rural. Muitos morrem eletrocutados em fios de alta tensão, atropelados ou mortos por cachorros. Tem garras e se alimentam de insetos e da “goma” que sai de algumas árvores. Vivem em pequenos grupos. As fêmeas tem papel muito importante e comandam a dinâmica. Os filhotes nascem gêmeos.

Macaco da noite – De hábito noturno, ele avisa aos animais da floresta quando existem caçadores.

O macaco-da-noite, Aotus infulatus (foto acima), é um fruto muito interessante da evolução. Macacos são diurnos. Pois este é do contra: noturno como eu que estou escrevendo este texto às 04 da manhã. Caçadores odeiam esse macaco. Ele avisa os animais com sons (vocalizações) que tem caçador na rede, na espera. Por isso, às vezes, são mortos. Esses olhos grandes não são à toa, mas é olho grande do bem.

Os macacos-prego (na foto logo acima) são nossos chimpanzés brasileiros. Inteligentíssimos e muito úteis em pesquisas comportamentais (Psicologia) e Biomédicas, por exemplo. Usam pedras para acessar alimentos duros na Caatinga e Cerrado (proto instrumentos) e até cavam o chão pra conseguir puxar a mandioca. Colocam um ou mais sentinelas pra vigiar a operação e se os mesmos não avisarem que o dono da roça está chegando a “taca” é grande depois. Temos duas espécies no meio norte: Sapajus libidinosus do Cerrado e Caatinga (que está aqui na região de Timon) e Sapajus apella da Amazônia maranhense. Vivem em grandes grupos e tem dieta generalista. Cresci ouvindo no Piauí que mulher grávida não pode ficar olhando macaco que o bebê sai com a mesma cara (risos). Depois posso escrever mais sobre essas figurinhas que foram tema do meu mestrado.

Guaribas ou capelões

As guaribas ou capelões do gênero Alouatta. Temos três espécies em nossa região: uma da Amazônia maranhense Alouatta belzebul (quem deu o nome não foi muito legal!) que são negros e tem mãos ruivas; a segunda Alouatta caraya (quem deu nome gostava de um “palavrão”) que é a guariba do Cerrado e Caatinga, sendo conhecidos como guariba loira, sendo os machos são negros e as fêmeas loiras (coisas da evolução), mas praticamente desaparecidos em nossa zona rural (atividade de caça intensiva); por fim, Alouatta ululata descoberta não faz muito tempo aqui perto em altos, Campo Maior.

Será que tem em Timon? Só estudos para dizer. Também muito caçada. Extinguiram no Parque Nacional de Sete Cidades há 30 anos.

Guaribas são muito caçadas, infelizmente e dependem de florestas de maior porte, que tem sido desmatadas. Precisamos atentar pra essa problemática. Daqui há pouco não teremos mais. Esses macacos que pesam mais que 5 ou 6 Kg comem mais brotos, folhas e frutos e que quando incomodados por biólogos ou qualquer “bedelhudo” ficam “xeretando” a vida deles levam jatos de fezes e urina. Bem feito, não é? Eles tem uma caixa amplificadora natural na garganta (osso hióide) e de longe se pode escutar sua vocalização, um ronco estrondoso. Tem muita gente meio guariba, não é? Tem até casamento que acaba pela problemática guariba (risos). Acabei de lembrar da música do Genival Lacerda: convidei a comadre Sebastiana pra cantar e xaxar na Paraíba. Ela veio com uma dança diferente e pulava que só uma guariba. E cantava A, E, I, O, U, Y. Nordeste massa! Deu vontade de ir já em um forró “rala bucho”.

Vou apenas citar outros macacos, pois estes ocorrem só na Amazônia maranhense ou bem próximo de lá e os amigos não devem conhecer ou ter visto.

O sauim (Saguinus niger) que lembra um soim. Os macacos-de-cheiro (Saimiri colinsi) que tem cara de palhacinho, vivem em grandes grupos e precisam das matas ciliares (que margeiam os cursos d’água) e isso é um problema. O caiarara descoberto na década de 90 e que é uma das 25 espécies mais ameaçadas do mundo (Cebus kaapori). Chiropotes satanas (cuxiús). Quem deu nome não foi muito legal. São dos macacos mais dóceis que já vi e são caçados e tem suas belas caudas usadas como espanador.

Para finalizar, meus caros, os macacos desempenham muitos papéis importantes na natureza. Eles ajudam a dispersar sementes, contribuindo muito para regeneração das florestas: as sementes vão em suas fezes. Servem de alimento para gaviões, serpentes de

maior porte na dinâmica da natureza, nas teias alimentares. Podem nos dar pistas sobre a evolução humana. Um adendo: biólogos não defendem que o homem veio do macaco, nem Charles Darwin. Isso merece um textinho, não? Podem nos “contar” sobre a evolução do Cerrado, da Caatinga, da Amazônia. Ficaria escrevendo um monte aqui, mas o intuito deste texto foi apenas introduzi-los ao “universo” da macacada e dizer que sim temos muitos primatas aqui e precisamos preserva-los.

Obrigado meu amigo pela leitura. Diga se quer ler mais sobre os macacos, sobre nossa fauna, sobre nossa Biodiversidade, sobre essa estória de que o homem veio do macaco. São muitas possibilidades. Quem tem estórias com animais, macacos? Ouvi muitas dos idosos, dos meus avós. Deixe nos comentários, por favor. Nos dê dicas, peça textos de seu interesse. Até breve!

Texto escrito pelo Dr. Cleuton Lima Miranda

Biólogo pela Universidade Federal do Piauí. Mestre e Doutor em Zoologia pelo Museu Paraense Emílio Goeldi. Pós doutor em Conservação Animal pela Universidade Estadual do Maranhão. Docente. Pesquisador. Cidadão brasileiro, maranhense e timonense com muito orgulho. Filiado ao PCdoB –  diretório de Timon.

Agradecimentos: ao sr. Elias Lacerda por tão rica oportunidade e aos meus mestres, que vão desde meus professores, passando por meus avós até os moradores da zona rural, daqui e da Amazônia, que tanto me ensinaram sobre macacos e outras coisas mais importantes que carrego comigo. Conhecimento popular e científico juntos.

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Elias Lacerda

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Jornalista apaixonado pela notícia e a verdade