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Uma homenagem ao poeta Barripi, que faleceu em Timon dias atrás

Acima os professores Francisco Soares (in memória), César William (camisa vermelha), Márcio Túlio e Barripi (de boné); Timon se despediu do poeta popular Barripi na semana passada (reveja clicando aqui).

 Lição maior de um poeta popular

Por César William

Foi com muita tristeza que tivemos conhecimento, por intermédio deste jornal eletrônico, da partida do poeta e amigo, José de Ribamar Pinho Barros, o poeta Barripi que demonstrara seu potencial criativo já a partir da criação do seu anagrâmico pseudônimo, contemplando a extensão do seu próprio nome, adotado para autenticar suas produções literárias.

Conhecio-o em 2005, por intermédio do também poeta, Nicolau Waquim Neto. A partir de então, mantivemos uma amizade apadrinhada pela poesia. Quando eu não estava com os dois amigos, estava com um deles e isso durou até 2011, quando deixei a cidade. Barripi tinha um senso crítico acurado, tanto do pondo de vista literário, quanto político e conseguia aliar as duas pontas do seu discurso com mestria.

Em entrevista concedida ao professor, escritor e entusiasta cultural, Cineas Santos (Jornal Corisco-Teresina, 2003), ocasião em que este perguntara se o poeta tivera algum problema no período da Ditadura Militar, Barripi respondera: “…, eu escrevi um folheto intitulado A carestia Atual e o Lamento do Povo. Era um folheto sobre a situação do povo brasileiro. Aí, a coisa ficou feia: me pegaram, me tacharam de comunista e me levaram para um matagal. Fizeram um X com areia em minha testa e se afastaram um pouco. Quando abri os olhos, vi quatro 45 apontadas para a minha cabeça”.

Em outro momento, afirma Cineas Santos no bojo da mesma entrevista: “Barripi é, seguramente, uma das vozes mais lúcidas da moderna poesia popular brasileira. Ao contrário da maioria dos poetas populares, ele não confia apenas na intuição: pesquisa, trabalha e imprime sua marca pessoal em cada coisa que faz”.

Além do forte humorismo presente na obra barripiana, detectamos um autodidata consciente da sua função na sociedade: semear esperança, alertar, educar, engajar-se em favor dos oprimidos e valorizar os bons feitos. Para guarnecer sua militância, o escritor criou a Fundação Brasileira de Literatura Popular – Funbralipe que funciona(va) em sua própria residência.

Barripi também foi pesquisador e investigador do nosso idioma pátrio, amante da Última Flor do Lácio, publicou uma gramática em versos intitulada, Universo do Saber, sobre a qual tivemos a honra e o privilégio de fazer o posfácio.

Na aludida obra, o autor apresenta seus malabarismos para focalizar importantes aspetos gramaticais de forma inovadora e inédita, com didática surpreendente, feita sob o signo do talento de um homem simples que teve como inspiração e como guia o cotidiano e suas constantes e obstinadas consultas a gramáticas, enciclopédias e a tudo o que lhe chegava às mãos. Eis uma mostra da grandeza do legado do grande poeta timonense:

FATO

Corri mundo, fiz de tudo
Buscando a felicidade
Mas hoje contemplo mudo
Que o fiz por vaidade.

Enquanto eu ia atrás dela
Sentindo um prazer sem fim
Não pressentia que ela
Estava dentro de mim

Vivendo a realidade
Noto agora com agrado
Que a maior felicidade
É amar e ser amado

Depois de grande jornada
Cheguei a me convencer
Que a vida só nos agrada
Quando se aprende a viver.

Barripi
_____________

O texto acima foi publicado em fevereiro de 2007 no Jornal Tribuna do Maranhão, com o mesmo título, aqui postado com breves alterações (veja foto acima).

César William é Poeta, professor, pesquisador, gestor escolar. Membro fundador da Associação Maranhense de Autores Independentes –Amei, da Academia Luminense de Letras – ALPL. Membro correspondente da Academia Icatuense de Letras – Ilca e do grupo virtual, Os Integrantes da Noite. Autor dos livros, O Errante (1988), Oficina das Palavras – Algumas Dicas Formais da Língua Portuguesa (2014) e Carta (à)Margem (no prelo pela Editora Viseu), além de outros inéditos.

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Elias Lacerda

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Elias Lacerda
Jornalista apaixonado pela notícia e a verdade