Saúde

Crônica de timonense: Uma Casa Silenciosa

Uma casa silenciosa
Nada se move. Eu observo os cantos evacuados até de pó. Parecem ruínas, ou astros muito distantes. Janelas semi abertas delineiam um sol em curvas, quase negro, que escorre por grades de ferro cruzadas.
Cada recinto consiste em si mesmo, nos seus mistérios, imunes ao movimento do chão. Eu admiro as tonalidades nas paredes e no teto: são borrões de luz e de escuro, uma mistura imóvel, um quadro de apreciação permanente.
Nada se move nesta terra. Nem as cortinas, nem as palavras, o suor não cai, ele se aluga na pele por qualquer eternidade viável. São horas, ou dias, ou números, qual a simbologia do tempo diante das atuais circunstancias? Eu aprecio quase tudo. E quase tudo que existe deveria ter alguma beleza. Mas do silêncio, e seu opaco domínio sob os móveis e as histórias, não há o que se falar. Estamos recrutando o adeus aos risinhos, aos bocejos e até à lucidez das lágrimas. Qualquer barulho que imite a TV ou um locutor de rádio sonolento.
Nada se move. Eu mesma paro e sinto um chamado estranho, para me unir à mansidão das coisas. Hesito. Há sonhos demais em mim e planos demais em mim para me atrelar à mobília, à escuridão do corredor e ao término das paredes. Eu sei onde elas terminam. E essa é a diferença entre nós.
Por Daniele Lima, jornalista timonense

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Elias Lacerda

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Jornalista apaixonado pela notícia e a verdade