Delcídio diz que negociações em CPI eram comuns em épocas de eleições
O ex-senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS) depôs ao juiz Sérgio Moro nesta sexta-feira (24) como testemunha de acusação em processo contra o ex-senador Gim Argello (PTB-DF) e outros réus. Delcídio falou que negociações em CPIs em época de eleição são corriqueiras, e que não se restringem à CPI da Petrobras de 2014, investigada no processo.
Gim Argello foi membro da CPI no Senado e vice-presidente da CPMI, da Câmara e do Senado, que investigou o esquema de corrupção da Petrobras. Conforme a acusação do Ministério Público Federal (MPF), ele exigiu propina na forma de doações eleitorais em troca da não convocação de empreiteiros para depor na comissão.
O G1 tentou contato com a defesa de Argello, mas não obteve retorno.
Parte da acusação teve origem na delação de Delcídio do Amaral, e por isso ele foi arrolado como testemunha pelo MPF. Ele reafirmou diante do juiz Sérgio Moro que soube dos pagamentos para evitar convocações através dos empresários Júlio Camargo, da Toyo Setal, e Ricardo Pessoa, da UTC. Camargo disse que pagou R$ 2 milhões, enquanto o MPF afirma que Pessoa pagou R$ 5 milhões para não serem convocados.
“Na verdade, o que a gente sentiu é que eles [empresários] estavam muito indignados com isso, porque aparentemente foi uma CPI na época de eleição. Aliás, determinadas CPIs elas normalmente aparecem em época de eleição. Quero aqui esclarecer que isso não é um fato isolado. Existem antecedentes também onde houve algum tipo de negociação em CPI, isso não é uma coisa específica desse caso”, disse o ex-senador. Ele afirmou ainda que o mesmo aconteceu em 2010, outro ano eleitoral. “Os rumores eram muito fortes”, falou.
Delcídio do Amaral disse também que a preocupação dos empresários com CPIs, que neste caso levaram ao pagamento de propina, não é restrita a esse caso.
“Todo empresário tem preocupação, a CPI, por mais que ela não dê em nada, e eu posso falar isso porque fui presidente de CPI, só o fato de ser convocado e mesmo ouvindo perguntas das mais estapafúrdias que acontecem numa CPI, ainda mais numa CPI mista, claro que todo empresário tem preocupação”, disse o delator.
Conforme o MPF, a propina exigida por Gim Argello foi enviada aos partidos indicados por ele – DEM, PR, PMN e PRTB – na forma de doações de campanha. Ele foi candidato pelo PTB a vice-governador do Distrito Federal, em coligação com estes partidos.
Ele também voltou a citar o deputado federal Marco Maia (PT-RS), relator da CPMI, e o ex-senador e atual ministro do Tribunal de Contas Vital do Rêgo, presidente da comissão, como destinatários de pagamentos de propina. Ambos já negaram as acusações de Delcídio.
Fonte: G1 Paraná.